sexta-feira, 25 de outubro de 2013

VILA DE LÓ, UMA EXPECTATIVA

...- O meu menino está no Bombarral? - perguntou Lucinda.
  - Ouçam - disse o padre José Soares - conversarmos sobre este assunto só pode ser feito dentro de casa. Agora tu Lucinda, não me saias outra vez pela porta fora como espavorida.
E os três entraram na humilde casa de Lucinda, onde esta tomou conhecimento da vivência real daquela  longínqua criança que se alimentara ao seu peito e que naquele momento, tão distante estava das suas verdadeiras origens. E Lucinda soube outra coisa - anjos da guarda podem-se revelar aos mortais de variadíssimas formas, sem sequer a sua presença ser conhecida por quem eles protegem. Mas que a sua acção se faz notar, disso não há dúvidas. Lucinda percebeu ainda que enquanto existirem verdadeiros seres humanos, solidários, de corações puros, a esperança será sempre um valor absoluto.
Riu-se Lucinda, riu-se António Avilar, quando concluíram que ambos traçaram a separação dos gémeos. Riram-se ambos quando perceberam que nas suas mãos e ajuda divina estava a união dos dois gémeos.
Vila de Ló era uma herdade em expectativa...(em continuação, pág. 112, ex. XL)
in Quando Um Anjo Peca

Março/1998


sábado, 5 de outubro de 2013

DUCADO DE AVEIRO

Vagueando pela cidade os meus passos levaram-me a um lugar cheio de história, mas quase escondido, e ignorado, do olhar da maioria dos aveirenses, muito embora esteja a céu aberto, junto ao qual centenas de pessoas passam diariamente, sem se darem conta da sua existência. Quantos aveirenses já ouviram falar da Fonte dos Amores? É uma fonte, desactivada, que está num plano um pouco inferior, relativamente ao passeio, existente mais ou menos em frente á rotunda da «cepsa», a escassos cem metros do quartel dos Bombeiros Velhos.
A fonte é uma construção que tem a aparência de um excerto de uma qualquer muralha, onde existe uma inscrição e um brasão de armas. Na inscrição pode ler-se: «louvado seja O Santíssimo Sacramento e A Virgem Nossa Senhora que foi concebida sem pecado original».
O brasão representa as armas dos duques de Aveiro, e encontra-se completamente picado, reflexo do fim trágico desta casa nobre.
D. Jorge de Lencastre (descendente da rainha D. Filipa de Lencastre, mãe da Inclita Geração), era filho bastardo de El-Rei D. João II e Duque de Coimbra. Pôde pois apresentar o seu filho, de 12 anos, D. João de Lencastre, neto de El-Rei D. João II, já então falecido, na corte. O jovem ficou ao serviço do Príncipe D. João (futuro rei D. João III), tendo El-Rei D. Manuel I lhe atribuído o título de Marquês de Torres novas.
Aconteceu que o então infante D. Fernando anunciou o seu casamento com a fidalga Guiomar Coutinho. Foi quando uma voz se levantou contra este casamento, precisamente a voz de D. João de Lencastre, alegando que Guiomar Coutinho era já sua esposa, muito embora de forma clandestina. O rei D. Manuel I não gostou desta intromissão e mandou prender o jovem, a quem fizera Marquês de Torres Novas, tendo o jovem D. João de Lencastre se mantido preso durante nove anos, até á morte do rei. Rei morto, rei posto, subiu ao trono D. João III, que devolveu a liberdade ao jovem que estivera ao seu serviço, D. João de Lencastre. Mas não satisfeito apenas com a devolução da liberdade, atribuiu a D. João de Lencastre o título de Duque de Aveiro, criando assim uma nova casa de nobreza em Portugal. D. João de Lencastre foi assim o 1º Duque de Aveiro, em Janeiro de 1547.
O 2º Duque de Aveiro, D. Jorge de Lencastre, sê-lo-ia por pouco tempo, pois que nascido em 1548, faleceria com apenas trinta anos, no dia 4 de Agosto de 1578, ao lado de El-Rei D. Sebastião, nas areias escaldantes do Norte de África, na Batalha de muito triste memória de Álcacer-Quibir.
O ducado de Aveiro prolongou-se por 212 anos, tendo tido oito duques, terminando abrupta e tragicamente, no dia 13 de Janeiro de 1759, com a execução pública do oitavo e último Duque de Aveiro, D. José de Mascarenhas e Lencastre, no que ficou conhecido como O Processo dos Távoras.

D. José I, que assinou a ordem de execução, mandou picar os brasões dos Aveiro. Por essa razão o Brasão da Fonte dos Amores se nos apresenta no estado em que se encontra, um sussurro de uma triste memória de Aveiro.