Pela primeira vez me aproximo duma passagem de ano na
condição de pleno dono do meu tempo. A não ser que haja por aí alguma proposta
de trabalho, que me seja deveras aliciante, o mundo apresenta-se-me de forma a
dispor dele a meu belo prazer. Mas, muito embora seja mais dono de mim mesmo,
isso não faz de mim um homem mais feliz do que era, porque os problemas com que
me debatia antes de me reformar, continuam presentes. E nesses incluo, porque
sou um cidadão deste mundo, os problemas que o mundo enfrenta e que acabam por
serem meus também. Se assim não o sentisse, era um tipo completamente
inconsciente. Mas parece-me que os há por aí.
E claro, um dos maiores problemas que o mundo enfrenta neste
momento, é sem qualquer dúvida a questão dos atentados terroristas. Qual a
fórmula para lhes pôr cobro? Não a conheço, não a imagino sequer, dado a sua
génese se basear numa conduta criminosamente cobarde. Parece-me que nós,
europeus do século XXI, estamos a pagar a factura das atrocidades cometidas
pelos nossos cruzados dos séculos XI,
XII e XIII, na Terra Santa, que de santa nunca nada teve e continua a não
ter. Muito têm de reflectir os
responsáveis pela segurança.
Por falar na Terra Santa, é de lá que, na sua grande maioria,
fogem daquela santidade demoníaca os muitos e muitos milhares de refugiados que
têm invadido a Europa, sem que os nossos governantes tenham dado uma resposta
verdadeiramente convincente, ou tenham terminado a sua vida aterrorizada nas
águas fechadas do Mediterrâneo, para vergonha da nossa quase solúvel
solidariedade.
Como se isto não bastasse aí temos um grande ponto de
interrogação vindo dos Estados Unidos. O que virá dali? Se o conteúdo for feito
da mesma massa da montra «Trumpesca», acho que muita instabilidade aguarda o
mundo.
E o que dizer das alterações climáticas, das atrocidades que
as sociedades altamente industrializadas continuam a perpetrar contra o
ambiente? Não se iludam. Estamos a produzir agora condições que irão provocar
um colapso do planeta para o final deste século. Isso não vos preocupa?
E por cá? Por cá as coisas estão um pouco melhores. Existem
aqui e ali nuvens de esperança. Sabem o que é uma geringonça? É uma coisa
atamancada! No dizer do PSD/CDS, é uma geringonça que governa o nosso país. Mas
o governo deles foi tão fraco, tão fraco, que a geringonça, mesmo sendo uma
coisa improvisada, conseguiu fazer um trabalho muitos furos acima do governo
Passos-Portas-Cavaco. Devolveu-nos a esperança, devolveu-nos a nossa identidade
histórica, soube opor-se com êxito às regras do FMI mostrando que continuamos a
ser um povo soberano, e começou a colocar travões ao patronato, que sob as
regras do anterior governo já considerava Portugal o paraíso dos paraísos.
Assim possa este nosso governo de esquerda continuar nesse trabalho, a fim de
devolver a dignidade a milhões de portugueses, que com os seus empregos
precários pouco acima do desemprego se encontram.
E começou a tratar de contratar carpinteiros, que venham a
conseguir abrir as portas que o anterior governo fechou aos nossos muitos
milhares de jovens, que por essa Europa fora buscam a vida que o governozinho
de direita lhes negou.
Finalmente dizer que temos um Presidente da República que me
surpreendeu com a forma próxima e afectuosa como pratica a sua presidência. Se
em tempos houve presidências abertas, Marcelo Rebelo de Sousa tem a presidência
escancarada. Politicamente foi-me mostrando quem é e o que sabe, nas suas
crónicas domingueiras durantes alguns anos, pelo que, muito embora seja oriundo
do Partido Social Democrata, não me suscita apreensões. E eu ainda confio no
meu instinto.
Por fim, digo que, deliciosamente, percorro, neste momento,
as «arestas da terra e do mar», pelas ruas perigosas de um Portugal de 1960, e
navego num lugre feito de aventura, muito trabalho perigoso nos bancos da Terra
Nova, solidariedade entre camaradas de beliche de «rancho», e também de
esperança, já que essa é sempre a última a morrer, mesmo quando o simples
«dizer» era perigoso.
Votos de uma passagem de ano excelente e que 2017 seja para vós sinónimo de uma vida muito feliz.