domingo, 29 de abril de 2018

ZÉ CORNO, UMA SURPRESA DESAGRADÁVEL


...Estava eu nestas conjecturas, quando fui surpreendido pelo meu pai a bater-me à porta do consultório.
- Entre meu pai – disse eu.
- Joaquim, é que está lá fora o Zé Corno que te quer dar uma palavra. Eu já o quis enxotar. Pois que raio terá aquela figura para falar contigo? Mas ele teima. E como ele, em dez palavras, eu lhe apanho apenas metade...se apanhar, vai lá falar com ele.
- Mas, meu pai, isso é nome de homem, Zé Corno? Quem é?
- É o inglês.
         Eu não sabia que inglês era aquele; e o meu pai, levando a palma da mão à testa, disse que, claro… eu não podia saber pois tinha ido para Coimbra. E então explicou-me que o tal Zé Corno fora um soldado do exército inglês, que combatera ao lado dos portugueses na batalha do Bussaco. Fora gravemente ferido, tendo sido auxiliado pelas gentes do Luso a superar os ferimentos. Ninguém sabia porquê, mas o certo era que o homem não mais quisera regressar à sua terra, tendo ficado na região. Deambulava entre o Luso e a Mealhada. Ninguém sabia onde morava, pois ninguém lhe conhecia casa.
         E era então este personagem que me procurava. Decerto que o fazia por sofrer de algum mal, pois que outra coisa haveria de ser?! Mas no atropelo dos dias que constituem a vida de cada um de nós, as surpresas são constantes. Algumas agradáveis, a maior parte das vezes nem por isso. E este foi um dos momentos em que a surpresa me bateu à porta… e nada agradável, por sinal...(em continuação, ex. XXVII)

in Alma de Liberal
Junho/2009

segunda-feira, 23 de abril de 2018

UM DIA EXTREMAMENTE RICO, ESTE...O DIA DO LIVRO


Um livro é como um muro. De um lado está o escritor que o escreve, do lado contrário encontra-se o leitor que o lê. No muro, que é o livro, os dois chegam, por momentos descansam as suas vidas no muro e conversam. O escritor fala dos mundos que lhe vão pela cabeça e o leitor faz desses mundos o que muito bem lhe apetece. E nessa conversa, um e outro, aprendem sempre alguma coisa.
Hoje, dia do livro, é dia do escritor e do leitor darem um sincero abraço.
Vivam os livros!

quinta-feira, 12 de abril de 2018

HIDEKO TSUKIDA, UMA FADISTA NA CIDADE NIPÓNICA DE OSAKA


Para aprender, qualquer hora e qualquer local são perfeitos. Isso mesmo. E os inesperados momentos de aprendizagem podem acontecer nos locais menos prováveis, mesmo numa simples ida ao médico.
            Isso aconteceu hoje comigo.
            Hoje de manhã fui ao Centro de Saúde de Aveiro. E, caído num daqueles momentos aborrecidos (em que todos nós, por vezes, nos encontramos, rodeados por quem não conhecemos, desesperados por ouvir o nosso nome ser pronunciado nas colunas de som, para nos retirar rapidamente daquela situação desconfortável),  fui buscar uma revista (da empresa de aviação Portugália), que se encontrava abandonada numa mesa, a um canto da sala. E fui desfolhando a revista. E, inesperadamente, deixei de estar naquela sala e viajei até ao Oriente, mais propriamente até à cidade japonesa de Osaka. É que naquelas páginas apresentava-se uma entrevista a uma cidadã nipónica, de nome Hideko Tsukida, que, imagine-se, cantava o fado, o nosso fado bem português.
            Em 1987 encontrou um disco da Amália Rodrigues e apaixonou-se pelo fado. E a partir daí, cantar com alma portuguesa o fado foi o seu grande projecto de vida. Veio para Portugal tirar um curso intensivo de português, conheceu muito dos nossos intérpretes, poetas e guitarristas, incluindo a Amália, e com a alma cheia de ardor lusitano regressou a Osaka, onde começou a difundir o fado.
            Bem, eu fiquei parvo a olhar para a revista. Mas o que descobri a seguir fez-me sorrir,  pois que naquele pequeno período de tempo que levei a ler o artigo, fiz uma viagem no tempo, já que aquela revista era de Maio de 1994.
            Logo a seguir o meu nome soou nas colunas e tive de me despedir da minha amiga máquina do tempo.
            Chegado a casa fui pesquisar. Hoje em dia Osaka tem uma vintena de casas de fado, à imagem das casas de fado do Bairro Alto. E a Hideko Tsukida já tem uma seguidora: Kumiko Tsumori.
            Mas que agradável lição o Centro de Saúde de Aveiro hoje me proporcionou!

domingo, 8 de abril de 2018

BATALHA DE LA LYS, UM SÉCULO PASSADO, REQUIEM À MEMÓRIA DOS NOSSOS HERÓIS


Completam-se amanhã, 9 de Abril, cem anos sobre a Batalha de La Lys, também conhecida por Armentiéres, nos campos alagados da Flandres, em França.
            Dos cerca de sessenta mil militares que Portugal enviou para França, na I Grande Guerra, só na funesta manhã desse 9 de Abril faleceriam quatrocentos. Mal alimentados, mal equipados e com a moral pela lama, sucumbiram à avalanche alemã. Seis mil e quinhentos iriam ser feitos prisioneiros.
            Este blogue junta a sua humilde voz a todas as vozes que, em Portugal e França, relembram essa batalha de má memória, cem anos depois, e prestam homenagem a esses heróis, que em nome de Portugal deram as suas vidas.
            Que os mortos de La Lys sejam eternamente lembrados na nossa memória colectiva.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA- 1169- DESASTRE DE BADAJOZ


A nossa história está repleta de nomes que, mantendo-se na penumbra histórica, no seu tempo tiveram uma forte actuação, auxiliando os nossos reis a atingirem os objectivos de cimentarem a nacionalidade.
         Em 1169 D. Afonso Henriques teve o auxílio de um desses nomes: Geraldo Sem-Pavor. Este nobre nortenho, muito cedo se deslocou para o Sul, tendo-se colocado ao serviço de El-Rei de Portugal, no sentido de, por sua conta e risco, fazer algumas conquistas aos mouros para o nosso primeiro rei. Foi o caso da conquista definitiva de Évora, com um enorme bando de salteadores.
         Seguidamente Geraldo Sem-Pavor conquistou Serpa, conquista esta que tinha por objectivo abrir caminho para alcançar Badajoz com sucesso, o que não se veio a concretizar.
         Na acção frustrada da conquista de Badajoz, D. Afonso Henriques acabou por ser aprisionado pelo seu genro, D. Fernando II de Leão, casado com D. Urraca Afonso, filha segunda do nosso rei, que lhe concedeu a liberdade com a condição de D. Afonso Henriques desistir de conquistar Badajoz.
         É também de derrotas que se faz a história de um grande país. E este nosso nobre Portugal teve algumas!