domingo, 28 de junho de 2015

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: ANO DE 959- MUMADONA DIAS E ALAVARIUM

Na segunda metade do último século do primeiro milénio, uma mulher houve que se destacou no Noroeste da Península Ibérica (região que integrava o futuro território berço de Portugal) pela acumulação de riqueza que lhe deu muito poder: a Condessa Mumadona Dias.
         Numa época em que os árabes eram uma absoluta ameaça, ocupando ainda toda a parte sul da Península Ibérica, O Conde Hermenegildo Gonçalves, senhor de Portucale e Coimbra, em 930 casou com Mumadona Dias. Já viúva, em 959, a Condessa fez doação de vastos domínios ao Mosteiro de Guimarães, localidade na qual iria construir um castelo (berço de Portugal). Desses vastos domínios doados aos frades de Guimarães, faziam parte terras de Alavarium, a actual Aveiro. Por essa razão, o documento de doação das terras de Aveiro ao Mosteiro de Guimarães, é o documento mais antigo conhecido em que é mencionado o nome de Alavarium (Aveiro), e Mumadona Dias uma mulher para sempre historicamente ligada, para além de Guimarães, também a Aveiro.

Por essa razão em 1959 Aveiro celebrou o seu milénio como povoação. 

sábado, 13 de junho de 2015

SIFTO- NOTÍCIAS DO DEUS SUPREMO


...Na noite a seguir a se ter evadido do templo, Masahemba encontrava-se deitado sobre a fofa cama de erva, que rompia numa das margens do ribeiro, cujo caudal era formado pela água que vinha directamente do tanque sagrado do templo de Amon-Rá. Entretinha-se a observar as estrelas, que na sua solidão, lhe sorriam e lhe contavam segredos, que só os ouvidos experimentados de um Sumo Sacerdote seriam capazes de entender. De repente foi puxado à realidade, terminando assim aquele tão elevado diálogo.
         Masahemba sentira uma presença. E não se enganara, pois junto a si encontrava-se o sifto que o trouxera do templo. E mais uma vez, embora a escuridão fosse total, o sifto era perfeitamente visível, através da aúrea que, no escuro, recortava a sua silhueta.
- Aqui estás tu de novo, meu querido rapazinho- disse Masahemba erguendo-se da sua posição de deitado.
- É reconfortante voltar a ver-te, Masahemba. O deus supremo ficou radiante ao saber que tu estavas em segurança.
- Sim, estou bem, mas esfomeado.
- Eu sei! Por isso te trago aqui pão e aves.
De imediato o Sumo Sacerdote pegou na sacola que lhe era estendida. Abriu-a e comeu com voracidade o pão e a carne de faisão e perdiz.
- Aqui, o tempo tem-te sido bom conselheiro?- perguntou o sifto.
- Porque perguntas?- questionava Masahemba com a boca cheia.
- Amon-Rá tem curiosidade em saber se já arquitectaste algum plano para a tua sobrevivência.
- Vou-me manter por aqui até o meu cabelo crescer. Quando deixar de ter a aparência de um Sumo Sacerdote, misturo-me com a multidão e conto com a protecção do disfarce de felas. Vai ser um disfarce cansativo, mas pelo menos preservo a minha liberdade… e a vida. Nada mais me resta fazer.
- Amon-Rá não pretende para ti uma sorte tão humilde como essa. Amon-Rá desconfia do silêncio que vai pelo palácio real. A qualquer momento, alguma acção o faraó irá pôr em movimento para te encontrar. O faraó berrou que nem um louco quando lhe foi transmitido que tu não estavas no templo.
- Que fez o faraó das outras duas sacerdotisas?
- Fê-las aias da já rainha Nefertiti.
- Nefertiti já é rainha do Egipto? Lembrar-se-á ela de mim?
- Isso pouco importa Masahemba- respondeu o sifto- Nefertiti é rainha, rainha de um faraó que te odeia. Por isso não acalentes esperanças de ela interceder por ti. A rainha de cabelos da cor do fogo apenas quererá ser agradável e submissa ao seu faraó. Amon-Rá já encontrou uma família que te vai acolher. Será assim mais fácil para ti iniciares a tua inserção na sociedade dos homens. Trouxe-te um saiote de felas. Mantém-te bem camuflado na densidade de toda esta abençoada vegetação, que amanhã, ao pôr do sol, eu virei buscar-te  e conduzir-te-ei a casa da tal família que te irá receber. A bênção de Amon-Rá fica contigo.
         E o sifto desapareceu numa veloz corrida, chapinhando pelo ribeiro, em direcção ao Nilo.

         Que sorte lhe estaria reservada? Haviam já passado quinze dinastias de faraós e o Egipto prosperara na abençoada sabedoria desses reis, bem como a harmonia que sempre existira entre esses mesmos faraós e os deuses. Pois tinha de acontecer no tempo em que ele chegara ao Egipto, surgir um faraó herético, para lhe dar cabo da vida. O que o Egipto representara para ele sabia-o bem. Mas, dali para a frente, o que ele iria representar para o Egipto, isso era uma incógnita… uma amargurada incógnita...(em continuação, pág. 59, ex. XXII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005

sexta-feira, 5 de junho de 2015

X JANELA SOBRE O MEU PAÍS: UM ENCANTO DE CAIS EM S. MARTINHO DO PORTO

Numa manhã de verão o Cais chamou por mim. Já lá não ía há muito tempo. Antigamente, a esta hora, a azáfama das traineiras a descarregarem o peixe era enorme, mas depois a Nazaré absorveu esse trabalho, pelo que agora apenas o Alaska descansa.
Este maravilhoso cais, que alguns dirão que é igual a tantos outros, tem para mim um significado muito especial, pois travei amizade com ele na força da juventude, o que me deixou sempre um toque de magia. As pessoas continuam a passear por ele, absorvendo toda a quietude e beleza. Do lado contrário da baía, a cerca de três quilómetros, encontram-se as dunas de Salir do Porto e a foz da pequena ribeira de Alfeizerão. No meio, todo o areal da Praia de S. Martinho do Porto.
Beijadas pelo mar, que logo á entrada da baía acalma a sua impetuosidade, são visíveis as ruínas da velha Âlfandega, a despontarem do negrume da rocha.

Com condições únicas em Portugal, S. Martinho do Porto é um paraíso na terra. E o seu cais merecedor de ser cenário de um conto de fadas!