Como
sou uma pessoa do mais comum e vulgar que existe, sem grandes artifícios, muito
distante de situações rebuscadas e cheias de artificialidades, coisas simples
podem muito bem sensibilizar-me. E sensibilizam! Por essa razão, nestas páginas
escritas às janelas da minha vida, já aqui o disse uma vez, não se encontrarão
recordações de gente famosa nem de situações ligadas ao Olimpo, já que o meu
mundo decorreu e continua a decorrer sempre no seio de gente gloriosa, sim, mas
uma glória ganha a vencer as bravas batalhas da vida. No seio do povo!
No
final daquele dia 14 de Dezembro de 1990, depois de ter terminado o meu turno
de serviço, tive uma imensa alegria. Ao entrar no agora meu carro, o velhinho
Peugeot 304 GN-85-39, de que já aqui falei algumas vezes, que tinha deixado
estacionado junto à Estação dos Correios, na Praça Marquês de Pombal, reparei
que no chão do carro se encontrava um postal com a imagem de um estudante de
capa e batina, portanto um estudante de Coimbra, já que tudo o resto são
imitações, tal como os desfiles estudantis. Em Coimbra diz-se que «a Queima é
em Coimbra, o resto são fitas.
Intrigado,
voltei o postal ao contrário, e nele estava escrita uma dedicatória que dizia
que ao dono daquele carro davam saudações coimbrãs e académicas. E porquê?
Deixara o vidro do carro ligeiramente aberto, e de certeza que um grupo de
estudantes de Coimbra passou por ali, como andam por Aveiro muitos, felizmente,
e ao ver a flâmula da Académica no carro, um bonito emblema, decidiram
deixar-me aquele enorme abraço, devidamente assinado com três nomes: Eduardo
Rebelo, João Martins e Luís Miguel Santos. Mas que maravilha. Fui para casa com
vontade de chorar. A minha querida Coimbra bateu-me em cheio no peito naquele
momento.
Hoje,
passados que são vinte e sete anos sobre aquele dia e aquela hora de final de
tarde, aos estudantes que escreveram e assinaram aquelas belas palavras, hoje
em dia por certo doutores a viverem e a trabalharem num qualquer recanto deste nosso
querido país, daqui envio o meu forte abraço e o meu reconhecimento por aquele
momento muito feliz que me fizeram viver, quando, ao passar por um Peugeot 304
branco, estacionado junto aos Correios em Aveiro, deixaram escrita uma memória
para todo o sempre, que se mantém guardada, num muito simbólico postal.
Obrigado caros doutores!
in Prosas Pelas Janelas da Vida
livro III