quinta-feira, 5 de novembro de 2020

AO FINAL DA TARDE SAUDAÇÕES DA BRIOSA, A MINHA ACADÉMICA



 

Como sou uma pessoa do mais comum e vulgar que existe, sem grandes artifícios, muito distante de situações rebuscadas e cheias de artificialidades, coisas simples podem muito bem sensibilizar-me. E sensibilizam! Por essa razão, nestas páginas escritas às janelas da minha vida, já aqui o disse uma vez, não se encontrarão recordações de gente famosa nem de situações ligadas ao Olimpo, já que o meu mundo decorreu e continua a decorrer sempre no seio de gente gloriosa, sim, mas uma glória ganha a vencer as bravas batalhas da vida. No seio do povo!

No final daquele dia 14 de Dezembro de 1990, depois de ter terminado o meu turno de serviço, tive uma imensa alegria. Ao entrar no agora meu carro, o velhinho Peugeot 304 GN-85-39, de que já aqui falei algumas vezes, que tinha deixado estacionado junto à Estação dos Correios, na Praça Marquês de Pombal, reparei que no chão do carro se encontrava um postal com a imagem de um estudante de capa e batina, portanto um estudante de Coimbra, já que tudo o resto são imitações, tal como os desfiles estudantis. Em Coimbra diz-se que «a Queima é em Coimbra, o resto são fitas.  

Intrigado, voltei o postal ao contrário, e nele estava escrita uma dedicatória que dizia que ao dono daquele carro davam saudações coimbrãs e académicas. E porquê? Deixara o vidro do carro ligeiramente aberto, e de certeza que um grupo de estudantes de Coimbra passou por ali, como andam por Aveiro muitos, felizmente, e ao ver a flâmula da Académica no carro, um bonito emblema, decidiram deixar-me aquele enorme abraço, devidamente assinado com três nomes: Eduardo Rebelo, João Martins e Luís Miguel Santos. Mas que maravilha. Fui para casa com vontade de chorar. A minha querida Coimbra bateu-me em cheio no peito naquele momento.

Hoje, passados que são vinte e sete anos sobre aquele dia e aquela hora de final de tarde, aos estudantes que escreveram e assinaram aquelas belas palavras, hoje em dia por certo doutores a viverem e a trabalharem num qualquer recanto deste nosso querido país, daqui envio o meu forte abraço e o meu reconhecimento por aquele momento muito feliz que me fizeram viver, quando, ao passar por um Peugeot 304 branco, estacionado junto aos Correios em Aveiro, deixaram escrita uma memória para todo o sempre, que se mantém guardada, num muito simbólico postal. Obrigado caros doutores!

in Prosas Pelas Janelas da Vida

livro III