«Por mandado da santa geral inquisição estes dez cantos
dos Lusíadas de Luís de Camões, dos
valerosos feitos em armas que os portugueses fizeram em Asia e Europa, não
achey nelles cousa alg~ua escandalosa, nem contraria à fé e bõs custumes,
somente me pareceo que era necessário advertir os lectores que o autor pera
encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na India, (…) de
b~ua ficção dos deoses dos gentios. E ainda que Sancto Angustinho nas suas
retractações se retracte de ter chamado
nos livros que compôs de ordine aas musas deosas todavia como isto he poesia e
fingimento e o autor como poeta, não pretenda mais que ornar o estilo poético
não tivemos por inconveniente (…) esta fabula dos deoses na obra, conhecendoa
por tal. E ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fé, que todos os
deoses dos gentios sam demónios. E por isso me pareceo o livro digno de se
imprimir, e o autor mostra nelle muito engenho e muita erudição nas sciencias
humanas. Em fe do qual assiney aqui.
Frey Bertholameu Ferreira»
E assim, depois desta autorização oficial da inquisição, Os
Lusíadas veio a ser livro, em 1572, para deleite e orgulho do Povo Lusitano,
nós!