sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

EM MASSIFTONRÁ, UMA GOLFADA DE ESPERANÇA NA VIDA

- Por Geb, finalmente que respiro normalmente- disse Masahemba.
- Eu sei que te foi desconfortável, mas resultou- disse, por seu turno, o sifto.
- Meu querido rapazinho, tu foste fantástico. Afinal Amon-Rá não é assim tão impotente como possa parecer.
- Bem, sempre vai tendo um truque aqui, uma subtileza ali- dizia o sifto sorrindo- mas estás a salvo, por enquanto- disse o sifto, tornando-se mais sério- o que pretendes agora fazer?
- Estas plantas à tona d’água devem-me garantir refúgio por algum tempo.
- Muito bem. Então eu vou informar Amon-Rá de que a operação foi um sucesso, e também informá-lo da tua localização. Mantém-te atento. Eu trago-te alimento. Mereces ser quem és, Masahemba.
         E dizendo isto, o sifto desapareceu numa corrida frenética. Masahemba saiu da água e desfez-se das suas vestes de Sumo Sacerdote, enterrando-as num buraco que fez na areia. Estava completamente nu. Mas não havia problema, pois no Egipto o frio era algo desconhecido para o homem.
         À beira do ribeiro existia verdejante e densa vegetação, constituída essencialmente por pequenas bananeiras, bem como por compridas, finas e duras folhas de papiro, que teriam de servir de camuflagem. Quanto tempo iria ali permanecer? Afinal, seriam os deuses menos poderosos do que a concepção que os homens faziam  deles?
         Cada homem tinha dentro de si um bocadinho dos deuses. Que coisa fantástica! E MassiftonRá, como seria? Não, não havia dúvidas nenhumas sobre o poder dos deuses. Só os deuses tinham o conhecimento para aos homens do Egipto poderem esconder a existência de um lugar tão importante- MassiftonRá, o mundo dos deuses...(em continuação, pág. 51, ex. XVIII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005


sábado, 18 de janeiro de 2014

ACORDO ORTOGRÁFICO...ALMEDINA DIZ-ME QUE NÃO!

Hoje, a dado momento, ao ler o Diário de Aveiro, apercebi-me de que este jornal não aderiu ao acordo ortográfico, o que me deixou muito feliz. Até que enfim que vejo uma fonte com responsabilidades nas letras portuguesas, a dizer não a essa patetice. Muitos me chamarão muitos nomes pelo que acabei de escrever. Que chamem!!
Já me disseram que sou retrógrado, que esta é mais uma evolução da nossa língua, como tantas que já sofreu, que se assim não fosse ainda continuaríamos a escrever farmácia com «ph». Bom, não sei quando nem porque razão o «ph» foi substituído pelo «f» no vocábulo «farmácia». Mas, sendo eu um cidadão deste mundo e deste país, tendo o meu próprio cérebro para pensar, que suponho que tem a mesma massa encefálica que o cérebro dos iluminados (eles é que pensam que não), sei muito bem porque razão houve necessidade, nas altas esferas pensantes, de fazer esta ultrajante alteração á língua portuguesa. O espírito é o mesmo daquele que obrigou a que, o senhor ministro dos negócios estrangeiros, tivesse pedido desculpa a Angola pelos processos judiciais a decorrer em Portugal sobre cidadãos angolanos.
Muito mal vai um país quando responsáveis por ele têm vergonha, se sentem incomodados com a sua história. A língua portuguesa é falada em muitos locais do globo. Podem alterá-la a seu belo prazer, mas os portugueses têm a responsabilidade de não deixar que as tentativas para se alterar a nossa língua, dentro do nosso próprio país, tenham êxito.
Até poder escrever irei fazê-lo, orgulhosamente, com erros. Foi esse o português que me foi ensinado na Escola Primária de Almedina, em Coimbra. Até poderia tentar alterá-la, na minha escrita, se tivesse consciência de que não era uma necessidade que nos foi quase imposta fora da nossa fronteira.

Tiro o chapéu ao Diário de Aveiro.

sábado, 11 de janeiro de 2014

EM AVEIRO, A FILHA DE UM PAI GRANÍTICO

... Em Outubro de 1986, no grupo de novos caloiros que chegaram à Universidade de Aveiro, incluía-se uma rapariga com dezanove anos de idade. Era oriunda de um pequeno povoado denominado Casal Velho, pertencente à freguesia de Alfeizerão, concelho de Alcobaça, distrito de Leiria. Na sua bagagem das vontades, trazia principalmente a forte intuição de se formar em Inglês. Nascida e criada naquele lugarejo existente no cume de um monte, fora severamente vigiada pelo olhar intolerante e belicoso do pai, um abastado lavrador, que na produção da pêra rocha formara o seu considerável pecúlio. Muito embora a moça conhecesse perfeitamente o ambiente estudantil das Caldas da Rainha, onde fizera o curso secundário, por acção da mão férrea do pai, não tivera ainda oportunidade de sentir a ilusão arrebatadora de uma paixão.
Fora uma única vez a uma discoteca, e isso acontecera, apenas, durante uma matinée, pois no imaginário do seu granítico pai, filha dele, enquanto solteira, não haveria de conhecer as misérias que aconteciam pela calada da noite, naquelas casas de «sanfonas aos berros», nome pelo qual ele  delicadamente se referia ás discotecas. A sua filha não haveria de ser uma galdéria, como tantas e tantas que se viam pelas Caldas.
Escusado è dizer que esta recém chegada novata, de nome Elisa Maria Feiteira Nobre, no Casal Velho nascida, com o seu longo cabelo preto, misteriosos olhos verdes, lábios carnudos e profundamente delineados, pele morena e sedosa, voz forte e sensual, formas impressionantemente esculturais, era uma potencial candidata à prática de inúmeros devaneios. Quantas loucuras de juventude não existiam recalcadas, naquele peito em ebulição?! Quantas possibilidades não se abriam no seu actual horizonte. Aveiro seria o local onde iria pôr em dia todas as contas atrasadas com a vida. Um ano em Aveiro também tinha trezentos e sessenta e cinco dias. Era muito dia! Fazendo uma boa gestão do tempo, haveria de conseguir conciliar com êxito os estudos e os prazeres da vida. Os cento e setenta quilómetros que a separavam do pai, bárbaro lavrador, garantiam-lhe uma perfeita segurança, para à vontade pôr em prática aquela conjugação de esforços.
As discotecas «Flashback» e «Winners» aliciavam-na loucamente. Corria para as praias da Barra e da Costa Nova, como se do Casal Velho, de onde vinha, o mar estivesse a muitos quilómetros de distância.
Elisa idolatrava Aveiro. No final dos dois primeiros meses de vivência em liberdade, já não sabia a que havia de dar mais valor: se à futura formatura, se à actual liberdade que magnificamente lhe penetrava cada poro da sua pele.
Como seria fabuloso que, por um qualquer efeito especial do destino, numa noite daquelas, por um canal da ria, deslizasse uma gôndola veneziana, transportando o seu príncipe encantado, que apaixonadamente a observava...(em continuação, pág. 76, ex. XXV)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003        

            

sábado, 4 de janeiro de 2014

EM 2014 NÃO AOS INDIGNOS DO NOSSO VOTO

A todos os que têm o bom hábito de frequentar este espaço, enviamos os nossos sinceros votos de um 2014 recheado de óptimas surpresas, onde se incluam não só as horas estritamente do foro pessoal, mas também as profissionais.
Dirigindo-me especialmente a todos os meus compatriotas, desejo-vos muita força para fazer frente ás adversidades que se adensam no horizonte para este novo ano, e coragem para que todos nós consigamos tomar uma enorme atitude drástica, perante a ignomínia que reside na sede da democracia portuguesa- a nossa Assembleia da República. Quando os deputados da Assembleia da Republica concedem autorização ao governo para proceder a cortes nos vencimentos dos funcionários públicos, e á anulação dos subsídios de férias e natal, e têm a tenebrosa imoralidade de se aumentarem, tanto nos vencimentos, como nos subsídios de férias e natal (para o orçamento de 2014 aumentaram-se em 1.424.022 €), sem que tal nunca tenha sido denunciado por qualquer deputado, mesmo do PCP ou BE, chega-se á triste conclusão de que a classe política portuguesa é formada por gente sem princípios, despojada de qualquer espécie de escrúpulos- biltres, indignos do nosso voto. Desejo-vos, realmente, que 2014 vos consiga livrar, a vós e a mim, deste cancro social, e nos bafeje com homens, cuja índole e intelecto estejam consentâneos com as necessidades de políticas produtivas e progressistas e necessidade de seriedade.
Já dizia o nosso eterno Eça, no seu actualíssimo romance «O Conde de Abranhos», que os políticos que estavam na Assembléia, já não tinham bem a certeza se eram deputados ou deputedos.

A coisa aproxima-se!