sexta-feira, 30 de junho de 2017

PTAHKNOR, A EXECUÇÃO DE UMA GRAVÍSSIMA FALTA

...Então Seth retomou a forma de peixe, pressionou o estômago conforme a indicação de Ptahknor, e imediatamente viu o seu corpo de tiláquia ser contornado por uma luz azulada.
-         Agora és um perfeito sifto- disse o crocodilo Bhokurac.
-         Muito bem. Sendo assim estou pronto para avançar- afirmou Seth.
-         Não te esqueças do nosso acordo.
-         Fica descansado, Ptahknor. Amon-Rá terá razões para destituir o deus Sobek e dar-te esse cargo.
E o deus Seth, disfarçado em sifto, avançou na direcção do mundo submerso dos deuses, o paradisíaco MassiftonRá.
Ptahknor, por momentos, ficou a ver aquele falso sifto a avançar para um mundo que lhe estava interdito. Sabendo-se conivente com aquela grave transgressão à vontade de Amon-Rá, o crocodilo Bhokurac preferiu não continuar a ver a execução da sua gravíssima falta, pelo que decidiu voltar costas ao avanço de Seth, saindo dali rapidamente, desaparecendo na escuridão das águas do Nilo.
Entretanto Seth avançava. Eram já visíveis as paredes aquáticas, iluminadas e translúcidas de MassiftonRá. Naquele ponto, apenas era permitida a presença ao deus crocodilo Sobek e aos siftos. Aos restantes crocodilos guardiães, Taaril e aos dois Bhokurac, era já zona interdita.
Seth nadava pelo meio de inúmeros siftos, que se deslocavam de um lado para o outro. Sabia que se um sifto quisesse entrar em MassiftonRá, teria de pedir permissão a Amon-Rá, através de mensagem telepática; e foi o que Seth fez. Aguardou algum tempo pela resposta, que por fim acabou por chegar, autorizando a sua entrada. Seth avançou e deliciou-se com as vibrações subtis que atravessavam o seu corpo.

Bem no interior do mundo dos deuses lá foi encontrar a sua mãe, o seu pai e os seus irmãos, entre todos os outros deuses. Sentiu uma momentânea tristeza por não poder pertencer àquele mundo. Por isso mesmo aquela tristeza deveria ser compensada com uma doce vingança...(em continuação, pág. 67, ex. XXVIII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A MORTE CAIU ABRASADORA NA ESTRADA 236 EM PEDRÓGÃO GRANDE

Os últimos dias foram sombrios, negros, tão negros como negro e mortal foi o fumo denso que se libertou da floresta a arder em Pedrógão Grande, no Centro do nosso país. E muito mais grave do que a floresta e os bens que levou, foram as 64 vidas que ceifou. 64 mortos! Ali, na estrada. Tocou-me fundo tomar conhecimento da história de alguns desses infelizes, de entre eles, aquela família de quatro pessoas, pai, mãe e dois filhos pequenos, que após terem passado o dia 17 de Junho, um Sábado em família, no complexo balnear de Castanheira de Pêra, avançaram para a horrível morte que os aguardava, naquele eternamente trágico troço de 400 metros da Estrada Nacional 236. Por certo, o casal, tendo por norma de vida a utilização da internet como eu faço neste momento.
E isto porquê? É que além de continuarmos a subestimar permanentemente a natureza, e talvez por isso mesmo, deixámo-nos de preocupar com as nossas florestas. Antigamente, há 50 anos, quando Portugal era um país pobre e rural, a floresta estava cuidada, pois que toda a caruma dos pinheiros e as folhas mortas (que são o combustível por excelência que alimenta os incêndios), era aproveitada para fazer a cama aos animais nos currais. Hoje em dia, porque somos um país rico, e temo-lo sentido bem na pele o peso da nossa riqueza, desprezamos toda essa camada orgânica das florestas. Quando digo nós, falo dos proprietários e do Estado. O maior culpado é o Estado que não limpa nem se tem preocupado em fazer limpar. Nestes últimos quarenta anos, ano após ano, o cenário de verão é sempre o mesmo e as promessas de medidas a tomar também. A natureza este ano deu uma grande lição ao Estado, à custa de 64 vidas que a única coisa que queriam era viver o seu Sábado descontraidamente.
         Tal como a nossa política económica nos enviou para as garras da troyka, também a nossa política florestal nos tem feito a cama. Não sei se tem sido incompetência ou cedência a interesses da indústria madeireira.

         Uma palavra de reconhecimento e de agradecimento aos  verdadeiros heróis deste país, os nossos bombeiros voluntários. Eles fazem o que podem e muitas vezes o que não podem. A muitos o fogo já os levou. Este ano, um dos 64 mortos, foi um desses valentes bombeiros. Mas são meros homens, que muito pouco podem contra a ganância e eu sei lá que mais atrocidades que viverão pelos corredores da política em Portugal. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: 1139- BATALHA DE OURIQUE, A PRIMEIRA VITÓRIA PORTUGUESA

No trabalho contínuo de fortalecer a aspiração de independência, D. Afonso Henriques, inserido nas lutas da reconquista cristã da Península Ibérica, fazia esporádicas incursões ao sul da Península, em pleno território mouro. Numa dessas sortidas, a 25 de Julho de 1139, saiu-lhe ao caminho um enormíssimo exército almorávida, formado por tropas de cinco réis mouros. Independentemente do número, as tropas portuguesas cristãs levaram os mouros de vencida. Esta vitória foi de tal forma corajosa, que as tropas portuguesas deram a D. Afonso Henriques o título de Rei de Portugal.
Um dos soldados que fez parte desse lendário exército foi Gualdim Paes, mais tarde Grão-Mestre da Ordem dos Templários em Portugal.
O facto de D. Afonso Henriques ter lutado contra cinco réis mouros, e a fé em que a batalha decorreu sobre a protecção das cinco chagas de Cristo, serviram para criar o Brasão de Armas de Portugal.

Batalha de Ourique, um facto decisivo para a fundação do Reino de Portugal.

domingo, 11 de junho de 2017

MISERÁVEIS CONDIÇÕES OFERECIDAS COM SORRISOS CÍNICOS


...De Torres Novas ficaram-lhe as saudades do intenso sabor a Ribatejo que existia no ar, e dos petiscos que comeu no típico restaurante «Solar do Melro».
         A vila ribatejana era já e só uma recordação. Descobrindo a rudeza do serviço da patrulha, Serôdio percorria agora as ruas de Lisboa. E numa sumptuosa manhã de sol lisboeta, o então jovem guarda de segunda classe da Policia de Segurança Pública sofreu o seu primeiro grande choque profissional. Prestava serviço em Lisboa havia dois meses. A adaptação à nova vida fazia-se muito lentamente. Andava cansado, pois dormir em camaratas de apoio a esquadras operacionais, era bem diferente do que dormir nas camaratas de Torres Novas. Em Lisboa era um corrupio constante de homens. Ora iam para gratificados, ora vinham de gratificados. Uns iam fazer o turno de serviço, outros chegavam tendo-o acabado. Até se habituar aos inúmeros despertadores que tocavam, aos muitos roncos dos que dormiam, ao barulho, muitas das vezes propositado, feito por alguns que sem qualquer tipo de formação moral ou cívica, desrespeitavam o descanso de outros, aos cheiros exalados por corpos menos habituados à higiene, era difícil a Serôdio conciliar o sono. Mas era nas miseráveis condições que a PSP e os sorrisos hipócritas dos seus oficiais tão delicadamente ofereciam aos guardas, que Serôdio teria de aprender a viver. Casas degradadas, onde funcionavam sombrias e asquerosas camaratas, faziam parte do seu quotidiano, enquanto profissional de policia. Com o espirito nutrido pelo degradante ambiente da sua camarata, quando entrasse de serviço havia de ser linda a missão!!
         Independentemente da desmotivação criada pelas condições terceiro-mundistas em que descansava, naquela manhã Serôdio estava bem disposto, pois o sol matinal irradiava felicidade que o tornava prenhe de alegria.
         Efectuava o serviço em patrulha dobrada, tendo por companhia um colega bem mais velho. Eram onze horas da manhã e o seu colega já visitara três tasquinhas. Nas duas primeiras bebera um cálice de «Favaios» em cada uma e na terceira despejara um copo de «ginja com elas». Obviamente que Serôdio detestava a companhia. O homem praticamente que ainda não abrira a boca. A principio Serôdio tinha a intenção de pedir ao seu colega mais velho explicações sobre formas de comportamento, perante variadas situações, mas depressa desistiu da ideia. Aquele policia veterano apenas conhecia o caminho para as tascas e bares de prostitutas...(em continuação, pág. 88, ex. XXXV)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

terça-feira, 6 de junho de 2017

PEDRO HISPANO, PAPA JOÃO XXI, O ÚNICO PORTUGUÊS À FRENTE DO VATICANO

Hoje em dia temos imensas preocupações que, se não tivermos cautela, consomem-nos toda a vitalidade. E são preocupações bastante substanciais: não é brincadeira nenhuma o presidente da maior potência do mundo demarcar-se do acordo de Paris, onde o mundo se comprometeu a iniciar o processo de respeito pelo ambiente, para que os nossos netos tenham a possibilidade de virem a ter um planeta saudável onde a vida, tal como a conhecemos, seja uma certeza.
Não é brincadeira nenhuma sabermos que a multiplicidade de atentados terroristas, ocorridos este ano na Europa, tiveram origem em indivíduos de origem muçulmana, que se encontravam completamente inseridos, e há muitos anos, nas comunidades que atacaram. Mas vamos ter esperança de que, tanto para um caso como para outro, os cientistas e os políticos consigam arranjar soluções que ultrapassem a estupidez humana.
Mas para fugir a todas estas preocupações vou falar de algo, uma informação que se cruzou no meu caminho há pouco, e que eu achei deveras interessante. No passado dia 20 de Maio completaram-se 740 anos sobre a morte de um português chamado Pedro Julião ou Pedro Hispano. Em vida assumiu os dois nomes. Tanto um como outro são nomes dados a alguns hospitais portugueses. Quem foi este homem?
Nasceu em Lisboa em 1215. Formou-se em medicina pela Universidade de Paris, tendo tido uma riquíssima actividade académica e abraçou a vida eclesiástica. A 20 de Setembro de 1276 foi eleito Papa, tendo assumido o nome Pontifício de João XXI. O seu Pontificado foi dos mais curtos da história do Vaticano. Oito meses depois, a 20 de Maio de 1277, quando se encontrava na sua casa de campo papal, na cidade de Viterbo, o palácio papal estava em obras, pelo que o tecto da divisão em que se encontrava desabou, tendo-o matado instantaneamente. Tinha então 62 anos de idade.
Pedro Hispano, o único papa português até ao presente, já lá vão sete séculos!