sexta-feira, 23 de junho de 2017

A MORTE CAIU ABRASADORA NA ESTRADA 236 EM PEDRÓGÃO GRANDE

Os últimos dias foram sombrios, negros, tão negros como negro e mortal foi o fumo denso que se libertou da floresta a arder em Pedrógão Grande, no Centro do nosso país. E muito mais grave do que a floresta e os bens que levou, foram as 64 vidas que ceifou. 64 mortos! Ali, na estrada. Tocou-me fundo tomar conhecimento da história de alguns desses infelizes, de entre eles, aquela família de quatro pessoas, pai, mãe e dois filhos pequenos, que após terem passado o dia 17 de Junho, um Sábado em família, no complexo balnear de Castanheira de Pêra, avançaram para a horrível morte que os aguardava, naquele eternamente trágico troço de 400 metros da Estrada Nacional 236. Por certo, o casal, tendo por norma de vida a utilização da internet como eu faço neste momento.
E isto porquê? É que além de continuarmos a subestimar permanentemente a natureza, e talvez por isso mesmo, deixámo-nos de preocupar com as nossas florestas. Antigamente, há 50 anos, quando Portugal era um país pobre e rural, a floresta estava cuidada, pois que toda a caruma dos pinheiros e as folhas mortas (que são o combustível por excelência que alimenta os incêndios), era aproveitada para fazer a cama aos animais nos currais. Hoje em dia, porque somos um país rico, e temo-lo sentido bem na pele o peso da nossa riqueza, desprezamos toda essa camada orgânica das florestas. Quando digo nós, falo dos proprietários e do Estado. O maior culpado é o Estado que não limpa nem se tem preocupado em fazer limpar. Nestes últimos quarenta anos, ano após ano, o cenário de verão é sempre o mesmo e as promessas de medidas a tomar também. A natureza este ano deu uma grande lição ao Estado, à custa de 64 vidas que a única coisa que queriam era viver o seu Sábado descontraidamente.
         Tal como a nossa política económica nos enviou para as garras da troyka, também a nossa política florestal nos tem feito a cama. Não sei se tem sido incompetência ou cedência a interesses da indústria madeireira.

         Uma palavra de reconhecimento e de agradecimento aos  verdadeiros heróis deste país, os nossos bombeiros voluntários. Eles fazem o que podem e muitas vezes o que não podem. A muitos o fogo já os levou. Este ano, um dos 64 mortos, foi um desses valentes bombeiros. Mas são meros homens, que muito pouco podem contra a ganância e eu sei lá que mais atrocidades que viverão pelos corredores da política em Portugal. 

Sem comentários: