Os últimos
dias foram sombrios, negros, tão negros como negro e mortal foi o fumo denso
que se libertou da floresta a arder em Pedrógão Grande, no Centro do nosso
país. E muito mais grave do que a floresta e os bens que levou, foram as 64
vidas que ceifou. 64 mortos! Ali, na estrada. Tocou-me fundo tomar conhecimento
da história de alguns desses infelizes, de entre eles, aquela família de quatro
pessoas, pai, mãe e dois filhos pequenos, que após terem passado o dia 17 de
Junho, um Sábado em família, no complexo balnear de Castanheira de Pêra, avançaram
para a horrível morte que os aguardava, naquele eternamente trágico troço de
400 metros da Estrada Nacional 236. Por certo, o casal, tendo por norma de vida
a utilização da internet como eu faço neste momento.
E isto
porquê? É que além de continuarmos a subestimar permanentemente a natureza, e
talvez por isso mesmo, deixámo-nos de preocupar com as nossas florestas. Antigamente,
há 50 anos, quando Portugal era um país pobre e rural, a floresta estava
cuidada, pois que toda a caruma dos pinheiros e as folhas mortas (que são o
combustível por excelência que alimenta os incêndios), era aproveitada para
fazer a cama aos animais nos currais. Hoje em dia, porque somos um país rico, e
temo-lo sentido bem na pele o peso da nossa riqueza, desprezamos toda essa
camada orgânica das florestas. Quando digo nós, falo dos proprietários e do
Estado. O maior culpado é o Estado que não limpa nem se tem preocupado em fazer
limpar. Nestes últimos quarenta anos, ano após ano, o cenário de verão é sempre
o mesmo e as promessas de medidas a tomar também. A natureza este ano deu uma
grande lição ao Estado, à custa de 64 vidas que a única coisa que queriam era
viver o seu Sábado descontraidamente.
Tal como a nossa política económica nos
enviou para as garras da troyka, também a nossa política florestal nos tem
feito a cama. Não sei se tem sido incompetência ou cedência a interesses da
indústria madeireira.
Uma palavra de reconhecimento e de
agradecimento aos verdadeiros heróis
deste país, os nossos bombeiros voluntários. Eles fazem o que podem e muitas
vezes o que não podem. A muitos o fogo já os levou. Este ano, um dos 64 mortos,
foi um desses valentes bombeiros. Mas são meros homens, que muito pouco podem
contra a ganância e eu sei lá que mais atrocidades que viverão pelos corredores
da política em Portugal.
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