domingo, 28 de junho de 2020

SÚBDITO DE MARSAHPTO


...Para minha estupefacção a entrevista decorreu num apartamento de um prédio normal. Quando esperamos por um escritório numa empresa, ao darmo-nos com um cenário doméstico, fica-se com um pé atrás. E tinha razão. Mas segui. Esperava-me um apartamento mergulhado em penumbra, com um enorme corredor, onde, a meio, numa parede se encontrava pendurado um quadro muito bem iluminado (era a única iluminação existente no corredor) que representava uma batalha, com soldados a cavalo, de capacete na cabeça, e outros com turbantes, em pleno deserto. Ao centro via-se um rei a ser trespassado por uma lança. Fez-me lembrar a batalha de Alcácer-Quibir. Mas que mau gosto, pensei. No entanto tudo fazia parte da estratégia.
         Aguardei uns minutos sentado numa cadeira colocada em frente ao quadro, até que fui chamado.
Aguardavam-me dois personagens: o que me fez a entrevista, e um tipo com ar sinistro sentado a seu lado, que nunca proferiu qualquer palavra, de tez bastante escura que apenas me observava.
O teor da entrevista centrou-se sobre o que Portugal representava para mim, e depois a tentativa (bem sucedida) de desmontar tudo o que de bom eu dissera sobre o meu país. Eu comecei a sentir-me leve e um pouco tonto, e já não tinha tanta certeza de me sentir bem com a minha Portugalidade.
Disse-me que o emprego para o qual eu me candidatava era muito bom, que iria ganhar quatro ou cinco vezes mais do que o que ganhava como alugador de carros…caso fosse aceite. E só pelo trabalho de ter ido à entrevista pôs-me nas mãos uma nota de cem euros.
Escusado será dizer que achei tudo aquilo muito estranho, mas como a oferta era muitíssimo apelativa (muito embora eu ainda não soubesse o que ia fazer), e aquela nota de cem euros dava-me garantias de coisas boas, ansiava imenso que me voltassem a ligar.
E ligaram! Foi desta forma que eu entrei para a organização denominada «O Protectorado». Aquele tipo sinistro que estava sentado ao lado do entrevistador era um «mentalizador», uma entre muitas armas secretas daquela organização, que tinham o poder mental de nos entrarem na mente e nos induzir no que quisessem. E o que eles queriam era fazer com que os portugueses deixassem de o ser, e passassem a ser o que eles queriam que os portugueses fossem: apenas súbditos do Protectorado, súbditos de Marsahpto, o verdadeiro nome da organização, oriunda de todo o Norte de África...(em continuação, ex. III)
in SOMBRAS DA ETERNIDADE e trovas troykianas

quarta-feira, 10 de junho de 2020

NO DIA DE PORTUGAL UM ABRAÇO A TI, MEU QUERIDO PORTUGUÊS, EM LONDRES


No mesmo ano em que Portugal perdeu a sua independência (dando-se início à dinastia filipina), faleceu Luís Vaz de Camões, a 10 de Junho de 1580. É, pois, ao lembrar a memória do nosso maior poeta que comemoramos a alma lusitana.
A data de 10 de Junho foi escolhida como o dia ideal para se cantar Portugal e os portugueses. É pois neste Dez de Junho que eu, como orgulhoso português que sou, envio um enorme abraço a todos os portugueses como eu, com o peito cheio de amor patriótico por vós, realçando todos os meus concidadãos que, espalhados pelos cinco continentes, em cada canto deste nosso planeta dão a conhecer a alma lusitana, labutando com o coração a latejar de saudade, ansiando pelo próximo momento em que voltarão a pisar solo português.
VIVA PORTUGAL!

sábado, 6 de junho de 2020

A CORAGEM DOS PESCADORES DOS LUGRES QUE OS LEVOU À DISTANTE E GÉLIDA TERRA NOVA


...Não é por acaso que nós, portugueses, uma nação tão antiga, dona de um vasto império a nível global, não passamos hoje de um cantito ao fundo da Europa plantado. Nós, que nos Descobrimentos tornámos o mundo maior, onde temos em Portugal um símbolo que recorde ao mundo esse feito? A Torre de Belém e nada mais. E mesmo que o nosso país tivesse em cada capital de distrito um monumento que recordasse a coragem dos nossos marinheiros, que serviria isso se no íntimo da maioria dos portugueses Descobrimentos é coisa velha, sem interesse, coisa de que não vale a pena ter orgulho!? Os governos são os primeiros a dar esse triste exemplo. Quando a história de todo um povo, a esse mesmo povo nada mais provoca do que tédio, isso pode ser perigoso. Quando um governo tem a ousadia de eliminar um feriado, que há trezentos e setenta e três anos comemorava a Restauração da nossa Independência, no 1º de Dezembro, isso é demonstrativo da frágil ambição em apostar no nosso desenvolvimento, porque quem não reconhece o bom do seu passado, apenas saberá planear um futuro medíocre, pois nunca compreendeu a sua verdadeira essência.
         A coragem dos pescadores dos lugres que os levou a aventurarem-se pelos oceanos fora, em frágeis veleiros de quatro mastros, até à distante e gélida Terra Nova, no Canadá, em busca do bacalhau, esse fiél amigo que durante muitas e muitas gerações foi um verdadeiro tesouro nacional, foi herdada, directamente, dos bravos marinheiros, intrépidos navegadores, que a bordo de embarcações com a mesma capacidade de resistência dos lugres, pelos oceanos então desconhecidos, abatendo temerosos e perigosos adamastores em cada esquina do mundo, desbravaram o desconhecido e enriqueceram o conhecimento geográfico do planeta.
         Mas se até esses foram esquecidos, queria agora o meu pai que o português actual desse valor a essa faina maior que foi a pesca do bacalhau à linha.
         E sacudido pelas lágrimas inesperadas do meu pai, resolvi então (pedindo às musas que me guiem na forma de exprimir o meu pensamento), escrever umas linhas que falem desse tempo duro em que o meu pai era um jovem, onde obrigatoriamente se recorde um pouco dessa vida difícil e sem glória, que foi a pesca do bacalhau à linha, onde o meu pai, Carlos Feliciano da Benta, foi um entre milhares de protagonistas. (em continuação, ex. IV)


in Nas Arestas da Terra e do Mar