...Não é por acaso que nós,
portugueses, uma nação tão antiga, dona de um vasto império a nível global, não
passamos hoje de um cantito ao fundo da Europa plantado. Nós, que nos
Descobrimentos tornámos o mundo maior, onde temos em Portugal um símbolo que
recorde ao mundo esse feito? A Torre de Belém e nada mais. E mesmo que o nosso
país tivesse em cada capital de distrito um monumento que recordasse a coragem
dos nossos marinheiros, que serviria isso se no íntimo da maioria dos
portugueses Descobrimentos é coisa velha, sem interesse, coisa de que não vale
a pena ter orgulho!? Os governos são os primeiros a dar esse triste exemplo.
Quando a história de todo um povo, a esse mesmo povo nada mais provoca do que
tédio, isso pode ser perigoso. Quando um governo tem a ousadia de eliminar um
feriado, que há trezentos e setenta e três anos comemorava a Restauração da
nossa Independência, no 1º de Dezembro, isso é demonstrativo da frágil ambição
em apostar no nosso desenvolvimento, porque quem não reconhece o bom do seu
passado, apenas saberá planear um futuro medíocre, pois nunca compreendeu a sua
verdadeira essência.
A coragem dos pescadores dos lugres que os levou a
aventurarem-se pelos oceanos fora, em frágeis veleiros de quatro mastros, até à
distante e gélida Terra Nova, no Canadá, em busca do bacalhau, esse fiél amigo
que durante muitas e muitas gerações foi um verdadeiro tesouro nacional, foi
herdada, directamente, dos bravos marinheiros, intrépidos navegadores, que a
bordo de embarcações com a mesma capacidade de resistência dos lugres, pelos
oceanos então desconhecidos, abatendo temerosos e perigosos adamastores em cada
esquina do mundo, desbravaram o desconhecido e enriqueceram o conhecimento
geográfico do planeta.
Mas se até esses foram esquecidos, queria agora o meu pai que
o português actual desse valor a essa faina maior que foi a pesca do bacalhau à
linha.
E sacudido pelas lágrimas inesperadas do meu pai, resolvi
então (pedindo às musas que me guiem na forma de exprimir o meu pensamento),
escrever umas linhas que falem desse tempo duro em que o meu pai era um jovem,
onde obrigatoriamente se recorde um pouco dessa vida difícil e sem glória, que
foi a pesca do bacalhau à linha, onde o meu pai, Carlos Feliciano da Benta, foi
um entre milhares de protagonistas. (em continuação, ex. IV)
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