sábado, 6 de junho de 2020

A CORAGEM DOS PESCADORES DOS LUGRES QUE OS LEVOU À DISTANTE E GÉLIDA TERRA NOVA


...Não é por acaso que nós, portugueses, uma nação tão antiga, dona de um vasto império a nível global, não passamos hoje de um cantito ao fundo da Europa plantado. Nós, que nos Descobrimentos tornámos o mundo maior, onde temos em Portugal um símbolo que recorde ao mundo esse feito? A Torre de Belém e nada mais. E mesmo que o nosso país tivesse em cada capital de distrito um monumento que recordasse a coragem dos nossos marinheiros, que serviria isso se no íntimo da maioria dos portugueses Descobrimentos é coisa velha, sem interesse, coisa de que não vale a pena ter orgulho!? Os governos são os primeiros a dar esse triste exemplo. Quando a história de todo um povo, a esse mesmo povo nada mais provoca do que tédio, isso pode ser perigoso. Quando um governo tem a ousadia de eliminar um feriado, que há trezentos e setenta e três anos comemorava a Restauração da nossa Independência, no 1º de Dezembro, isso é demonstrativo da frágil ambição em apostar no nosso desenvolvimento, porque quem não reconhece o bom do seu passado, apenas saberá planear um futuro medíocre, pois nunca compreendeu a sua verdadeira essência.
         A coragem dos pescadores dos lugres que os levou a aventurarem-se pelos oceanos fora, em frágeis veleiros de quatro mastros, até à distante e gélida Terra Nova, no Canadá, em busca do bacalhau, esse fiél amigo que durante muitas e muitas gerações foi um verdadeiro tesouro nacional, foi herdada, directamente, dos bravos marinheiros, intrépidos navegadores, que a bordo de embarcações com a mesma capacidade de resistência dos lugres, pelos oceanos então desconhecidos, abatendo temerosos e perigosos adamastores em cada esquina do mundo, desbravaram o desconhecido e enriqueceram o conhecimento geográfico do planeta.
         Mas se até esses foram esquecidos, queria agora o meu pai que o português actual desse valor a essa faina maior que foi a pesca do bacalhau à linha.
         E sacudido pelas lágrimas inesperadas do meu pai, resolvi então (pedindo às musas que me guiem na forma de exprimir o meu pensamento), escrever umas linhas que falem desse tempo duro em que o meu pai era um jovem, onde obrigatoriamente se recorde um pouco dessa vida difícil e sem glória, que foi a pesca do bacalhau à linha, onde o meu pai, Carlos Feliciano da Benta, foi um entre milhares de protagonistas. (em continuação, ex. IV)


in Nas Arestas da Terra e do Mar

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