Acabei de ler o romance da nossa extraordinária escritora
Deana Barroqueiro, intitulado 1640. Para quem esteja minimamente atento, é
claro que o título imediatamente nos diz qual a temática do romance: pois
claro, fala-nos sobre o nosso grandioso 1º de Dezembro de 1640.
Concebido na base de quatro perspectivas, de outros tantos protagonistas, a autora apresenta-nos não só um Portugal revolucionário, a necessitar urgentemente de justiça social e política, mas também nos disseca um país e um reino pós-revolucionário, de cofres vazios, a lutar contra a nefasta influência da poderosa Espanha numa Europa que, em espectativa, tende em não acreditar na libertação de Portugal das amarras castelhanas.
A autora viaja, profundamente, até ao Brasil e à floresta amazónica, apresentando-nos o perfil de bons e maus portugueses, os primeiros que trabalham por servir a coroa honesta, pacifica e honradamente, enquanto os segundos, apenas valendo-se da coroa para benefício próprio, através dos seus instintos maleficamente colonialistas exercem uma exploração assassina dos índios da amazónia. Nesta fase vamos encontrar o grande Padre António Vieira, na juventude, iniciando a sua acção como missionário entre os índios, exibindo já os seus dotes de pensador e oratória.
Pela mão da autora viajamos também ao mundo escondido dos conventos, onde os costumes daquela época «depositaram» muitas senhoras sem qualquer aptidão de votos, fazendo surgir, pela sua argúcia e malícia, uma espécie diferente de homens: os «freiráticos», um termo que aprendi neste livro. Uma inesperada visão sobre a vida conventual do séc. XVII que a autora nos apresenta.
Somos depois confrontados com a execrável acção da Holanda, que aproveitando-se da fraqueza política em que Portugal se encontrava, após o 1º de Dezembro, tudo tentou para nos subtrair o Brasil, tendo-se confrontado com a tenaz vontade e querer do homem lusitano.
Neste romance surge-nos toda a enorme vida, desse grande homem, esse grande português que foi o Padre António Vieira. Caminhando pelas muitas páginas, vamos tomando conta do quanto António Vieira lutou pela justiça para com os índios do Brasil, o quanto lutou para contrariar a política holandesa, de toda a sua capacidade diplomática ao serviço de D. João IV, e por fim de nos revelar toda a perfídia e aberração da Santa Inquisição, o pavoroso Santo Ofício e os horrorosos Autos de Fé.
É uma viagem ao passado, aos anos que imediatamente se
seguiram a um dos momentos mais altos e importantes da nossa história, que foi
o 1º de Dezembro de 1640.
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