sábado, 25 de julho de 2020

XXXI JANELA SOBRE O MEU PAÍS- NO JARDIM DA SEREIA, MEMÓRIAS COIMBRÃS


Coimbra tem locais que são verdadeiras fontes de tradição. Infelizmente para mim existem dois que muito pouco posso falar sobre eles, porque nunca se proporcionou na minha vida que os frequentasse com regularidade, porque não existiu razão para que o fizesse. Falo do enorme «Penedo da Saudade», onde a paixão explode, onde se cantam antigos amores de estudantes, e do Choupal, essa floresta mágica, banhada pelo Mondego, perdição de tricanas, estudantes e futricas.
E depois havia, e continua a haver, o Jardim da Sereia.
O Jardim da Sereia, localizado logo acima da imprescindível Praça da República, situa-se logo abaixo da enorme escadaria pela qual se chegava ao Liceu D. João III, hoje José Falcão. A escadaria actualmente é a mesma, o liceu também, somente com a diferença de que agora assumiu a designação de «escola secundária». Coisa estranha!
E porque o Jardim da Sereia fica muito perto do liceu, foram muitas e muitas as vezes que para lá me dirigi, depois das aulas, eu e muitos dos meus colegas. E não íamos para o jardim com o intuito de passear. É que no Jardim da Sereia existia um campo pelado de futebol, para onde íamos dar uns toques na bola, quando o mesmo campo se encontrava disponível- o Campo de Santa Cruz. Era neste campo que os juvenis da Académica treinavam. E foi neste campo que eu cheguei a envergar o belo equipamento negro da Académica, com o maravilhoso emblema da Briosa ao peito. Tentei a minha sorte como juvenil da Académica. Mas faltava-me envergadura física, para mais tendo o treinador considerado que eu tinha características de médio, um lugar muito exigente fisicamente. A explosão física que se operou no meu organismo ainda não tinha chegado. Por isso, nessa altura eu media 1.56 m de altura, um três reis de gente. Como poderia eu impor-me como médio, sendo o futebol uma modalidade de contacto? O meu pai ainda me chegou a ir ver num treino, estávamos em 1972. Ter envergado o equipamento da Briosa é para mim um momento de extrema importância simbólica, pois enverguei a cidade de Coimbra, vesti a minha essência.
O Jardim da Sereia e o Campo de Santa Cruz são, para mim, dois pontos fortes da minha vivência coimbrã.
in Prosas Pelas Janelas da Vida
livro I