...Estava eu nestas conjecturas, quando
fui surpreendido pelo meu pai a bater-me à porta do consultório.
- Entre meu pai – disse eu.
- Joaquim, é que está lá fora o Zé
Corno que te quer dar uma palavra. Eu já o quis enxotar. Pois que raio terá
aquela figura para falar contigo? Mas ele teima. E como ele, em dez palavras,
eu lhe apanho apenas metade...se apanhar, vai lá falar com ele.
- Mas, meu pai, isso é nome de homem,
Zé Corno? Quem é?
- É o inglês.
Eu
não sabia que inglês era aquele; e o meu pai, levando a palma da mão à testa,
disse que, claro… eu não podia saber pois tinha ido para Coimbra. E então
explicou-me que o tal Zé Corno fora um soldado do exército inglês, que
combatera ao lado dos portugueses na batalha do Bussaco. Fora gravemente ferido,
tendo sido auxiliado pelas gentes do Luso a superar os ferimentos. Ninguém
sabia porquê, mas o certo era que o homem não mais quisera regressar à sua
terra, tendo ficado na região. Deambulava entre o Luso e a Mealhada. Ninguém
sabia onde morava, pois ninguém lhe conhecia casa.
E
era então este personagem que me procurava. Decerto que o fazia por sofrer de
algum mal, pois que outra coisa haveria de ser?! Mas no atropelo dos dias que
constituem a vida de cada um de nós, as surpresas são constantes. Algumas agradáveis,
a maior parte das vezes nem por isso. E este foi um dos momentos em que a
surpresa me bateu à porta… e nada agradável, por sinal...(em continuação, ex. XXVII)
in Alma de Liberal
Junho/2009
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