quinta-feira, 17 de julho de 2008

OS CONDES DE ABRANHOS DO SÉC. XXI

«O Conde de Abranhos», sátira política bem à maneira do nosso imenso Eça de Queiróz, narra, essencialmente, a ascensão de um provinciano, Alípio Abranhos, criado, por caridade, por uma tia rica, em terras minhotas, desde o seu profundo provincianismo, passando pela Universidade de Coimbra, até ministro do reino, com a pasta da marinha, ascensão essa apenas possível por ter casado com a filha de um desembargador, dono de uma imensa fortuna, que além de ser dono do seu dinheiro, dizia que também era dono dos ministros. Do genro, tinha a concepção de ser um inútil, um ladrão que lhe chupava toda a fortuna, um «pancrácio».
Pelo meio, ao jeito da pena profundamente critica e extremamente humorística do Eça, passeamo-nos, na obra, no seio dos deputados deputedo do reino, já que deputados de política pouco interessados estão em ser. E é nesse ambiente, que os deputados, no hemiciclo, medem forças, não nas ideias para desenvolver o reino, mas antes nas capacidades de oratória, aveludando as suas palavras ocas com elaborados preceitos de estilo. Vence no «combate político» o que mais fizer vibrar a veia literária dos iluminados deputados, pouco lhes importando se através das palavras proferidas o reino avance.
A obra é de uma acutilância sublime. Parabéns à RTP, que finalmente conseguiu traduzir para a tela todo o espírito que se encerra em Eça de Queiroz, produzindo uma excepcional série baseada no romance »O Conde de Abranhos». Parabéns a todo o elenco, que foi prodigioso, com especial relevância para os actores que protagonizaram as personagens de Alípio Abranhos-«O Lipinho», e o seu secretário Zagalo, o olho da razão, a mente que na sombra ridiculariza todos os outros personagens, incluindo o doutor do «é notável...é notável».
Mas na mesma televisão divirto-me, quando ouço comentadores políticos dizerem que será interessante ver quem, na Assembleia da República, ou num qualquer debate, o irá vencer.
O medíocre, parasita e incompetente Alípio Abranhos, que nada percebia de barcos, quando foi nomeado ministro, deram-lhe a pasta da Marinha. E a primeira grande medida que idealizou tomar em mãos, que proporcionasse o desenvolvimento da marinha portuguesa, foi o de fazer uma grande expedição ao Pólo Norte, com a aprovação sarcástica do seu secretário Zagalo.
Não sei porquê...a sério que não sei, mas em muitos debates politicos que vejo, sorrio e vem-me à memória «O Conde de Abranhos». Será idiotice minha, ou existirão na nossa praça muitos condes de abranhos? Decerto que é idiotice minha, pois a politica que se faz no meu país é de fazer inveja a qualquer um...


Sem comentários: