...Abandonando
a orla fluvial e encaminhando-se para o interior, os homens davam conta das
mudanças que se iam operando a nível da vegetação e da própria paisagem.
Conforme se distanciavam do rio Nilo, as exuberantes árvores tropicais,
palmeiras, figueiras, tamareiras, iam dando lugar a uma vegetação muito mais
pobre, limitando-se essa vegetação a crescer apenas ao nível do solo, muito
rasteira e parca em seiva.
Era natural. O Nilo estava a ficar distante e por conseguinte
os seus efeitos benéficos deixavam de se fazer sentir. E então, quando os
homens se encontravam a já milhares de pés de distância do rio Nilo, o
horizonte abria-se num infinito oceano de areia. Era o deserto Sahara, que
ainda hoje lá se encontra, atravessando todo o Norte de África de lés a lés,
desde o Oceano Atlântico até ao Mar Vermelho. Era o mundo da desolação e do
perigo. E era nesse ambiente, terrivelmente hostil, que vivia a personagem mais
sinistra do Egipto dos meus tempos de meninice, há dez mil e cinquenta e nove
estações- o deu Seth.
Expulso de MassiftonRá pela sua natureza
conflituosa e nada séria, Seth decidiu
que a sua conduta estaria canalizada para ridicularizar a acção dos outros
deuses, mesmo os seus irmãos e pais, já que o deus Seth era filho da deusa Nut
e do deus Geb, irmão dos deuses Osíris e Ísis, e tio do deus Horus; e
principalmente, porque isso ia contra os princípios de MassiftonRá. Por tal
motivo impunha-se dificultar ao máximo a vida dos homens.
Sem um lugar para morar, Seth escolheu as
areias escaldantes do deserto para construir a sua casa. O deus Seth foi
expulso de MassiftonRá, mas não perdeu os seus atributos de deus. No entanto,
como canalizava as suas energias para os sentimentos menos nobres, perdeu a
capacidade de intervir ao nível espiritual do homem, passando a sua acção a
centralizar-se apenas no âmbito material. Seth imiscuía-se nas disputas das
terras, dos gados, das mulheres, sentimentos mesquinhos que preenchiam os
corações dos homens.
À imagem de MassiftonRá, Seth criou também
seres que o auxiliavam no seu trabalho, e esse era o de espalhar a desordem e o
caos no mundo dos homens. O deus Seth era o grande inimigo da Maet. Assim, nas
profundezas da areia do deserto, o deus Seth criou o seu palácio, a que chamou
de «Kulsh-El-Seth». Era um palácio com estrutura de areia densamente compacta,
palácio esse mergulhado na escuridão. E das criaturas do deserto,
essencialmente escorpiões, Seth fez emergir os seus ajudantes. Surgiram então
os «Ulsh», os «Akunosh», os «Efru», e chefiando toda esta orda de criaturas
malignas, existia apenas um escorpião «Tekhaib», que fazia a ligação entre os
obreiros de Kulsh-El-Seth e o próprio deus Seth...(em continuação, pág. 53- ex. XIX)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005
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