...As
sentinelas que vigiavam através dos abrigos, pertencentes ao pelotão que ficara
no aquartelamento do Ninda, viram ao longe a aproximação da coluna. De imediato
deram a saber o regresso da companhia. Todos demonstravam imensa satisfação. A
missão de reconhecimento fora um êxito. Não houvera baixas nem feridos, e
tinham capturado um número considerável de guerrilheiros inimigos. A coluna ao
entrar pela pequena ponte improvisada, localizada sobre a vala, era recebida
com imenso regozijo. Davam-se abraços e lançavam-se imensas larachas, próprias
de quem, vivendo sob a expectativa de permanente perigo, num momento de
descontracção soltava a alegria, a natural boa disposição, e fazia um brinde à
vida.
Os cinquenta turras foram bem
amarrados, aglomerados no centro da parada, mas de modo a que não fossem vistos
do exterior. Dez homens os guardavam, com as g3 apontadas a eles e a patilha de
segurança seleccionada para o R de
rajada. Via rádio já fora comunicado que no Ninda se encontravam cinquenta
prisioneiros de guerra. O Quartel General haveria de lhes dar destino e
encarregar-se-ia de os is buscar.
Os soldados que tinham integrado a
coluna, contavam aos que ficaram o modo pelo qual a missão tivera êxito. Os
soldados riam-se e ao mesmo tempo perguntavam-se como tudo aquilo fora
possível. Sim, porque numa guerra a sério nunca se vira minas explodirem
sozinhas, sem uma força externa que lhes accionasse o detonador, nem turras
saltarem que nem doidos, denunciando-se a si próprios, deitando a perder uma
emboscada da qual esperariam infligir muitas baixas ao inimigo « portuga». Por
isso os soldados portugueses riam, mas não riam de satisfação, antes o faziam
por nervosismo, pois estavam cientes de que se não tivesse acontecido algo que
o seu entendimento ainda não assimilara, muitos deles não estariam ali vivos,
naquele momento. Por isso alcunharam aquela missão de «operação do alferes
bruxo», referindo-se eles à previsão certeira que o alferes Santa Cruz fizera
da existência da emboscada.
Todos se preparavam para irem tomar um
banho no rio Cuango, pois a chuva já se fora. Agora que tinham cinquenta turras
prisioneiros, tão cedo não seriam incomodados pelo inimigo...(em continuação, pág. 91, ex. XXIX)
in Visitados
Novembro/1999
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