...- O faraó tomou
o nome de Akhenaton?- perguntava o deus ancião Aton.
- É verdade-
respondeu Amon-Rá.
- Mas esse nome
quer dizer: aquele que serve Aton.
- Exactamente-
volveu o deus supremo.
- Mas isso é um
disparate. Para que quero eu um faraó a servir-me? Já fui servido por muitos.
Serviram-me e ajudei-os. Bem difíceis foram os tempos da construção das
pirâmides. Mas valeu a pena- dizia Aton orgulhoso- estão ali umas construções
que hão-de deliciar os olhos de muitos homens, pelos tempos fora.
-
Tens toda a razão, Aton- dizia Amon-Rá- tens o pleno
direito de te sentires orgulhoso. O mesmo já não posso dizer eu. Os faraós
actuais deram em esconder a morte em subterrâneos. Criaram
o Vale dos Reis, aqui em Tebas, onde as suas múmias são depositadas. Mas isso
não tem a sumptuosidade das tuas pirâmides.
-
Os tempos também são outros- dizia o deus ancião-
naqueles tempos os faraós não se debatiam com o flagelo dos salteadores de
túmulos.
-
Bem que Osiris e Anúbis podiam fazer mais qualquer coisa
em defesa dos túmulos e das múmias- disse Amon-Rá.
-
Com todo o respeito que me mereces, divino mestre, sou
forçado a discordar de ti- disse o deus Osiris, defendendo-se- criámos algumas
maldições para dissuadir os criminosos de violarem os sarcófagos.. Mas a sua
ambição é tremenda.
-
Existe aí influência de Seth, não duvido nada- retorquiu
o deus ancião- pois um homem no seu estado normal não teria coragem de correr o
risco de ter de enfrentar as maldições criadas por Osiris e Anúbis. Só mentes e
corações possuídos pela malignidade de Seth se sentiriam com forças para
subestimarem essas vossas criações.
-
Estará o faraó a ser manipulado por Seth?- perguntou
Amon-Rá.
-
É muito pouco provável- retorquiu Aton- o faraó tem um
espirito suficientemente forte para não se deixar influenciar por uma entidade
desestabilizadora; a não ser que algo de muito errado tenha ocorrido no momento
da sua escolha para faraó.
-
Ele proibiu o meu culto. Achas isso normal? E venera-te,
obrigando o povo a fazê-lo também.
-
Bem, esse homem está doente e tem de ser deposto quanto
antes. O deus supremo és tu e não eu- disse Aton- Mênfis foi o meu momento, a
minha glória. Tebas tem de ser, obrigatoriamente, a cidade e o tempo de
Amon-Rá. A maet pode ficar irremediavelmente desequilibrada. Eu não vou aceitar
qualquer tipo de prece.
-
Que farão então os siftos?- perguntou Amon-Rá.
-
Não as recolhem- disse peremptoriamente Aton- esperemos
que hajam homens e mulheres, que na calada da noite, orem a ti. Tu é que
precisas de alimento. Eu já comi o que devia. Se me dão licença, retiro-me.
Estou demasiado cansado para imaginar um tolo de um faraó a erigir templos em
minha honra. Há-de morrer seco de tanta heresia. Reúnam forças, deuses de
MassiftonRá, e expulsem esse lunático do trono, para o bem do Egipto.
E Aton retirou-se enquanto os restantes deuses o
observavam, inquietos, confusos. Se o próprio Aton recusava que se lhe fizesse
culto, isso significava que a decisão do faraó era mais grave para o Egipto do
que o que se poderia pensar...(em continuação, pág. 62, ex. XXIV)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005
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