Ontem fiz uma deliciosa e simultaneamente reflexiva viagem no
tempo. Mediante extraordinárias fotografias expostas, foi-me possível entrar no
porto de abrigo de St. John’s, no Canadá, na Terra-Nova, sentir a calmaria do
frio ambiente, ouvir o som da brisa que afagava os navios brancos, observar o
descanso daqueles rostos cansados mas heróicos, que formavam as tripulações dos
navios.
Sim, entrei no já longínquo e desgraçadamente desaparecido
mundo da faina do bacalhau. Fui visitar o Museu Marítimo de Ílhavo, que bem
merecia ser chamado de «Museu Nacional do Bacalhau», pois que tão forte é a
tradição do bacalhau na cultura portuguesa.
Tive a oportunidade de conhecer, por dentro, a estrutura de
um bacalhoeiro da Terra-Nova. E tive o ensejo de ver as fotografias de alguns:
o Creoula, de Lisboa, o Vila do Conde, de Vila do Conde, o José Alberto, da
Figueira da Foz, o Dom Denis, de Aveiro, o Rainha Santa, de Aveiro, o Santa
Maria Manuela, de Aveiro. Ver o espaço exíguo que os homens tinham para
descansar das longas horas de faina árdua, foi algo que muito me enriqueceu.
Senti o quanto tenho sido beneficiado na vida. Grandes homens que edificaram
uma cultura e tradição algumas vezes secular, que quase de forma criminosa foi
abolida da nossa forma de vida.
O Museu Marítimo de Ílhavo, cidade de onde foram oriundos
todos os capitães desses lendários
barcos pesqueiros, preserva a memória dessa cultura e desses intrépidos
pescadores, que nos pequenos botes chamados «dóris», eram arreados dos bacalhoeiros,
e sozinhos se distanciavam dos pequenos navios, nas perigosas águas da
Terra-Nova, para irem lançar os anzóis e regressarem aos navios com os botes
carregados de bacalhau.
Éramos uma nação de valentes!
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