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Meu capitão, não consigo conceber o alferes Santa Cruz
transformado num homem sedento de sangue. Ele é um oficial responsável, um
homem dono de um espírito sensível...
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Ouça alferes Mendes, ele agora é apenas um homem a
quem mataram a namorada, que segundo parece, adorava. Tudo isto que eu disse
pode não acontecer, mas há a possibilidade de no seu íntimo, a grande dor que
sente, degenerar em algo nefasto. E que melhor meio para isso acontecer do que
este ambiente? A personalidade humana é muito complexa. Há muito para descobrir
sobre nós próprios, estou convencido disso. Não vamos mais longe, olhe o
exemplo do inexplicável acontecimento de ontem, na picada. Como foi possível o
alferes Santa Cruz ter previsto a localização exacta da emboscada, os
pormenores da forma como ela estava montada, até o número exacto de turras que
nos aguardavam? Que venha o melhor psicólogo explicar aquele facto, que eu sou
todo ouvidos. Estou perfeitamente convicto de que existe uma parte de nós que
desconhecemos. E a experiência que tenho da guerra dá-me alguma solidez para
sustentar esta minha convicção. Por isso não vou arriscar.
Dois dias depois Rui Mendes via Álvaro
ser transportado numa pequena avioneta, a qual levantava voo da pista
improvisada, contígua ao aquartelamento do Ninda, com destino a Luanda. A
avioneta cada vez se tornava mais pequena, sendo a sua rota seguida pelo olhar
do alferes. Álvaro partira antes do tempo, vivo. Da maldita guerra já se
livrara. Mas punha-se a questão: que tipo de paz iria ele encontrar?... (em continuação, ex. XXXV)
in Visitados
Novembro/1999
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