domingo, 3 de janeiro de 2021

UM AMIGO QUE NUNCA CONHECI


 

Agora que já passaram as celebrações do natal e ano novo, momentos onde a alegria se impõe sempre que possível, porque circunstâncias da vida existem que obrigam a que nem sempre assim seja, quero-vos falar em algo que no final de 2020 muito me marcou.

            A internet tem a fabulosa capacidade de incluir na nossa vida, como amigos, pessoas que nunca vimos, das quais não conhecemos nada: nem a voz, nem a altura, nem a força do seu abraço ou do seu aperto de mão, muito menos a emanação, ao vivo, das suas energias. E no entanto já interagem connosco, no computador, ao lado dos outros nossos amigos de quem conhecemos tudo que aos amigos é dado conhecer.

            Em Dezembro de 2018 aderi a um grupo aqui do Facebook, cuja característica comum a todos teria de ser o cumprimento do serviço militar na Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra.

            Depois de naquele grupo ter publicado algumas das minhas memórias passadas na EPI, na gíria militar conhecido como «O Calhau», tive a agradável surpresa de ver um dos elementos do grupo a mostrar vontade de trocar comigo algumas opiniões sobre muitos assuntos. Foi ele o senhor João Jesus Ribeiro, residente em Lisboa.

            Sucedeu-se então uma prolongada e muito interessante troca de emails, com maior incidência neste ano de 2020 que agora terminou. Política, recordação de momentos das nossas juventudes e da vida em geral, saúde, doença, espiritualidade, música e literatura foram alguns dos temas que abordámos nas nossas conversas «internéticas». Sem nunca nos termos visto já era como se de velhos amigos nos tratássemos.

            Em Setembro, no seu último email, confidenciou-me que no dia anterior lhe fora diagnosticado cancro do pulmão. Não mais respondeu aos meus emails. Em Dezembro recebi um email seu, mas não era ele a escrever. A sua esposa teve a simpatia de, usando o seu email, me informar de que o seu marido falecera. Dois meses apagaram uma vida.

            Em mim ficou um vazio. Foi aí que senti então que a força da alma humana é enorme. Muito embora nunca tenha estado na presença do amigo João Jesus Ribeiro, a minha mente e o meu íntimo registaram-no como um verdadeiro amigo. Desde aí, há duas semanas, passei a sentir que, afinal, alguns amigos virtuais podem, na verdade, ser mais importantes do que possa parecer.

Obrigado por tudo quanto aprendi consigo amigo João Jesus Ribeiro!

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