Agora que já passaram as celebrações do natal e ano novo,
momentos onde a alegria se impõe sempre que possível, porque circunstâncias da
vida existem que obrigam a que nem sempre assim seja, quero-vos falar em algo
que no final de 2020 muito me marcou.
A internet tem a fabulosa capacidade
de incluir na nossa vida, como amigos, pessoas que nunca vimos, das quais não
conhecemos nada: nem a voz, nem a altura, nem a força do seu abraço ou do seu
aperto de mão, muito menos a emanação, ao vivo, das suas energias. E no entanto
já interagem connosco, no computador, ao lado dos outros nossos amigos de quem
conhecemos tudo que aos amigos é dado conhecer.
Em Dezembro de 2018 aderi a um grupo
aqui do Facebook, cuja característica comum a todos teria de ser o cumprimento
do serviço militar na Escola Prática de Infantaria (EPI), em Mafra.
Depois de naquele grupo ter
publicado algumas das minhas memórias passadas na EPI, na gíria militar
conhecido como «O Calhau», tive a agradável surpresa de ver um dos elementos do
grupo a mostrar vontade de trocar comigo algumas opiniões sobre muitos
assuntos. Foi ele o senhor João Jesus Ribeiro, residente em Lisboa.
Sucedeu-se então uma prolongada e
muito interessante troca de emails, com maior incidência neste ano de 2020 que
agora terminou. Política, recordação de momentos das nossas juventudes e da
vida em geral, saúde, doença, espiritualidade, música e literatura foram alguns
dos temas que abordámos nas nossas conversas «internéticas». Sem nunca nos
termos visto já era como se de velhos amigos nos tratássemos.
Em Setembro, no seu último email,
confidenciou-me que no dia anterior lhe fora diagnosticado cancro do pulmão.
Não mais respondeu aos meus emails. Em Dezembro recebi um email seu, mas não
era ele a escrever. A sua esposa teve a simpatia de, usando o seu email, me
informar de que o seu marido falecera. Dois meses apagaram uma vida.
Em mim ficou um vazio. Foi aí que
senti então que a força da alma humana é enorme. Muito embora nunca tenha
estado na presença do amigo João Jesus Ribeiro, a minha mente e o meu íntimo
registaram-no como um verdadeiro amigo. Desde aí, há duas semanas, passei a
sentir que, afinal, alguns amigos virtuais podem, na verdade, ser mais
importantes do que possa parecer.
Obrigado por
tudo quanto aprendi consigo amigo João Jesus Ribeiro!