Como já
referi algumas vezes, considero que a sociedade portuguesa se está a tornar
avessa ao que é tradicional. O moderno é que é evolução, o antigo é marasmo, é
decadência, dizem muitos milhares, se calhar milhões, demasiados para a saúde
identificativa de um povo, na minha concepção, obviamente.
Antigamente,
antes dos primeiros supermercados, os agregados familiares aviavam-se nas
mercearias, onde compravam toda uma panóplia de produtos que lhes serviriam
para o seu alimento, desde a massa, ao azeite, ao bacalhau, ás bolachas (vendidas
avulso, saídas de grandes caixas de lata, envolvidas em papel finíssimo,
tornavam-se muito mais saborosas) até ao café. Entretanto, as mercearias foram
caindo em desuso, desaparecendo, acabando por se tornarem lugares quase de
culto, para os que se preocupam com estas coisas, e aí mudaram de nome. Hoje em
dia chamam-se «comércio tradicional». Lá está- se é tradicional é para deitar
abaixo.
Em Aveiro,
bem no coração da cidade, na parte mais antiga, onde outrora foi a Vila Nova,
fora da muralha, mais propriamente na Praça 14 de Julho, hoje toda ela virada
para o turismo, existe uma «saborosa» loja de comércio tradicional, que resiste
a essa onda de anti-tradicionalismos. Nela se vende de tudo um pouco, desde
sementes para a horta até produtos para a barba. Mas o que realmente a torna
diferente, e um caso de sucesso, é o café, que o seu proprietário, o senhor
Frutuoso Seabra de Almeida, ali mói na hora.
Tem um
balcão com cinco moinhos, que segundo me informou, é dos últimos em Portugal,
senão mesmo o único balcão assim. Demorou 12 anos a conseguir a aquisição
daqueles moinhos e a sua reparação. Todos funcionam e trabalham diariamente. A
casa é belíssima. Ainda me lembro da impressão que suscitou em mim, da primeira
vez que nela entrei- parecia que eu estava a entrar num postal de natal, tal o
conforto que senti e continuo a sentir.
Se eu fosse
um agente de viagens, indicaria aos meus clientes que, em visitando Aveiro, um
local obrigatório a conhecer teria de ser esta loja- a casa do café Vera Cruz,
porque merece uma visita.
Parabéns ao
senhor Frutuoso e um bom negócio. É que se assim for, temos garantida a sua
existência.
Claro que
nesta publicação há algo impossível de transmitir, algo que se apreende apenas
em lá estando- o magnífico aroma!
2 comentários:
Visitei a Casa Vera Cruz. Fiquei deslumbrado com os cinco moinhos e a simpatia do Sr. Frutuoso. Sempre conversador lá foi relatando como adquiriu os moinhos e o seu regresso como emigrante nos Estados Unidos.
Convido-o a visitar o meu blog: cafemuseu.blogspot.com ou no Google: café o prazer de colecionar memórias.
Saudações
Viva Carlos Pereira.
É fabulosa aquela casa, não é?
Obrigado pela visita. Marcarei presença no seu blogue.
Muito obrigado.
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