quinta-feira, 6 de setembro de 2012

EM AVEIRO- VERA CRUZ, A CASA DO CAFÉ


Como já referi algumas vezes, considero que a sociedade portuguesa se está a tornar avessa ao que é tradicional. O moderno é que é evolução, o antigo é marasmo, é decadência, dizem muitos milhares, se calhar milhões, demasiados para a saúde identificativa de um povo, na minha concepção, obviamente.
Antigamente, antes dos primeiros supermercados, os agregados familiares aviavam-se nas mercearias, onde compravam toda uma panóplia de produtos que lhes serviriam para o seu alimento, desde a massa, ao azeite, ao bacalhau, ás bolachas (vendidas avulso, saídas de grandes caixas de lata, envolvidas em papel finíssimo, tornavam-se muito mais saborosas) até ao café. Entretanto, as mercearias foram caindo em desuso, desaparecendo, acabando por se tornarem lugares quase de culto, para os que se preocupam com estas coisas, e aí mudaram de nome. Hoje em dia chamam-se «comércio tradicional». Lá está- se é tradicional é para deitar abaixo.
Em Aveiro, bem no coração da cidade, na parte mais antiga, onde outrora foi a Vila Nova, fora da muralha, mais propriamente na Praça 14 de Julho, hoje toda ela virada para o turismo, existe uma «saborosa» loja de comércio tradicional, que resiste a essa onda de anti-tradicionalismos. Nela se vende de tudo um pouco, desde sementes para a horta até produtos para a barba. Mas o que realmente a torna diferente, e um caso de sucesso, é o café, que o seu proprietário, o senhor Frutuoso Seabra de Almeida, ali mói na hora.
Tem um balcão com cinco moinhos, que segundo me informou, é dos últimos em Portugal, senão mesmo o único balcão assim. Demorou 12 anos a conseguir a aquisição daqueles moinhos e a sua reparação. Todos funcionam e trabalham diariamente. A casa é belíssima. Ainda me lembro da impressão que suscitou em mim, da primeira vez que nela entrei- parecia que eu estava a entrar num postal de natal, tal o conforto que senti e continuo a sentir.
Se eu fosse um agente de viagens, indicaria aos meus clientes que, em visitando Aveiro, um local obrigatório a conhecer teria de ser esta loja- a casa do café Vera Cruz, porque merece uma visita.
Parabéns ao senhor Frutuoso e um bom negócio. É que se assim for, temos garantida a sua existência.
Claro que nesta publicação há algo impossível de transmitir, algo que se apreende apenas em lá estando- o magnífico aroma! 

2 comentários:

Carlos Pereira disse...

Visitei a Casa Vera Cruz. Fiquei deslumbrado com os cinco moinhos e a simpatia do Sr. Frutuoso. Sempre conversador lá foi relatando como adquiriu os moinhos e o seu regresso como emigrante nos Estados Unidos.
Convido-o a visitar o meu blog: cafemuseu.blogspot.com ou no Google: café o prazer de colecionar memórias.
Saudações

Poeta do Penedo disse...

Viva Carlos Pereira.
É fabulosa aquela casa, não é?
Obrigado pela visita. Marcarei presença no seu blogue.
Muito obrigado.