Na nossa
modesta condição de meros curiosos da história, entendemo-la sob dois prismas:
a história monumental e a história factual.
A história
monumental, sob a nossa modesta óptica, será aquela que todos os dias vemos,
que facilmente é acessível ao nosso conhecimento. Será a história que fluí de
cada monumento, que nos conta histórias da História. Para isso basta termos a
atenção desperta e sabermos ver.
A história
factual será aquela que se aprende nos documentos, pois apenas existe na
memória dos factos, cujo peso do tempo a esconde do nosso olhar e impossibilita
a sua percepção.
É da
história factual que iremos falar hoje!
E em função disso digamos duas palavras sobre uma
nobre geração, a que Camões chamou de Ínclita- os filhos de El-Rei D. João I. Nestas
andanças pelas memórias de Aveiro, disse algures que D. João I autorizou a
construção da muralha de Aveiro, a pedido do Infante D. Pedro, seu filho, então
senhor de Aveiro, em 1413. E senhor de Aveiro ainda se manteve durante muitos
anos. E prolongou o senhorio de Aveiro no reinado do seu irmão, El-Rei D.
Duarte, que, como primogénito de D. João I, lhe sucedeu no trono. Há a
acrescentar que o Infante D. Pedro, além de donatário de Aveiro, era também
Duque de Coimbra.
E foi então,
que em 1438, o seu irmão El-Rei D. Duarte, faleceu, sucedendo-lhe no trono o
príncipe herdeiro D. Afonso. Mas D. Afonso era uma criança de apenas seis anos
de idade, pelo que D. Duarte deixou escrito que a rainha, D. Leonor de Aragão,
tomaria a regência do reino. O Infante D. Pedro não concordou com a decisão do
seu falecido irmão, tendo então assumido a regência do reino durante a
menoridade do novo rei, D. Afonso V.
Os anos
foram passando e o número de inimigos do regente D. Pedro foi aumentando, pois
que ao tomar posse da regência do reino afastou da corte uma grande fatia da
nobreza. Nobreza essa que, conforme o rei crescia e se aproximava da idade
adulta, o ía convencendo de que o seu tio, o Infante D. Pedro, não mais lhe restituiria
o trono.
A intriga
surtiu efeito na mente do jovem rei D. Afonso V, não atendendo, por isso, ás
tentativas de conciliação por parte do Infante D. Pedro.
O rei
escreveu então ao Duque de Bragança, um dos fidalgos que o instigara contra o
tio, ordenando-lhe que se dirigisse para a corte, em Lisboa, e que se fizesse
acompanhar por homens de armas, pois que teria de passar por terras
pertencentes ao ducado de Coimbra, onde o Infante D. Pedro era o duque. O
Infante D. Pedro proibiu a passagem do Duque de Bragança, seu inimigo, pelas
suas terras, tendo, por isso, sido considerado pelo rei D. Afonso V como um
súbdito desleal ao seu rei. D. Afonso V, sabendo que o Infante D. Pedro saíra
em perseguição do Duque de Bragança, com um exército de 6000 homens, formado
pela sua gente de Coimbra e Aveiro, investe contra ele, com as suas tropas (30
000 homens), tendo-se encontrado no lugar de Alfarrobeira, ás portas de
Alverca, no dia 20 de Maio de 1449, na que ficou conhecida como a Batalha de
Alfarrobeira. O rei tinha apenas 17 anos de idade.
O donatário
de Aveiro, o Infante D. pedro, pereceu nessa batalha, bem como vários fidalgos
que o acompanhavam, terminando assim em tragédia a questão da sucessão ao
trono, que opôs tio e sobrinho.
Logo a
seguir à Batalha de Alfarrobeira, D. Afonso V concedeu o perdão geral aos
moradores da vila de Aveiro, cujo senhor fora seu inimigo. No entanto, no
início de 1450, retirou todos os bens a João Eanes, de Esgueira, que fora
partidário do Infante D. Pedro em Alfarrobeira.
O Infante D.
Pedro foi senhor de Aveiro durante cerca de quarenta anos, devendo-se a ele a
construção da muralha e a ainda existente feira anual- a Feira de Março, bem
como o incremento que deu á pesca e ao comércio.
Em Aveiro, a
memória do Infante D. Pedro é lembrada sempre que vamos ao parque da cidade, ao
qual foi dado o seu nome, e mais recentemente ao próprio hospital da cidade.
Infante D.
Pedro, uma muito ilustre memória de Aveiro!
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