...Olhou até
onde a vista alcançava. Divisava quase toda a Rua de S. Sebastião. As luzes dos
candeeiros ainda estavam acesas. A rua estava deserta. Não passava um único
carro. Lá ao fundo um cão atravessou a rua. E ele ali ia, sozinho, vestido com
calças e dólman cinzentos, e porque era Domingo, envergava uma camisa branca.
Foi das primeiras coisas com que embirrou na policia, foi ter de vestir camisa
branca aos Domingos e feriados. Era uma parolice, sintoma de disponibilidade à
despreocupação em melhorar a imagem. Ele sentia-se como um «biblot». Aos
Domingos e feriados os policias vestiam-se de camisinha branca, para parecerem
bem aos olhos do cidadão e fazer sobressair de algum modo um dia votado ao
descanso, a que eles, no entanto, não tinham direito. As cidades ficavam muito
mais belas com a alvura domingueira dos policias. Que falta de classe! Mas a
classe faltava em muitas outras coisas.
Monotonamente, com as mãos cruzadas
atrás das costas, a pala do boné sobre os olhos, na tentativa de dar a entender
uma imagem de modernidade, Serôdio iniciou a sua patrulha. O tempo tinha de
passar. Se não havia ninguém com quem conversar, conversaria com as sua
memórias...(em continuação, pág. 79, ex. XXVII)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003
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