...Já se
haviam passado três anos e meio, desde que ingressara na P.S.P. Tivera receio
de que, com a dificuldade de memorizar o que lia, não conseguisse ingressar na
PSP, tal como lhe acontecera no C.O.M. em Mafra. Mas graças a Deus tudo correra
bem. A policia não fora tão exigente como a tropa e ele melhorara imenso no seu
problema intelectual.
Chegara a Torres Novas no dia 24 de
Janeiro de 1983. Naquela vila ribatejana estava instalada a E.F.G. (Escola de
Formação de Guardas). A escola era um velho edifício restaurado, onde outrora
estivera aquartelado um regimento de cavalaria. Estava pintada de cor amarela.
A fachada, enorme, pintalgada por inúmeras janelas e portas, sobressaia na
massa de casario da vila. Dois canhões do tempo das invasões francesas,
pintados de preto, ladeavam a entrada principal do edifício. Era ali que
Serôdio iria passar os próximos cinco meses. Lembrava-se da forma tímida como
entrara. Afinal estava a entrar num departamento policial, coisa de que o povo
português fugia como o diabo foge da cruz. No entanto, depressa se adaptou ao ambiente, pois estar ali ou na tropa
apenas diferia na cor da farda. Ao passo que em Mafra os recrutas vestiam a
farda de trabalho número três, de cor verde, em Torres Novas envergavam uma
farda de trabalho número três, de cor azul.
Ainda nesse ano ele pôde constatar que
a vida militar afinal diferia em muito da vida policial. Mas, e enquanto fosse
guarda provisório, viveria na enganadora sensação de que voltara à tropa.
Tal como no exército, por ali
circulavam homens com patentes idênticas: segundos e primeiros sargentos;
alferes, tenentes e capitães. Apenas os nomes mudavam. Respectivamente aos
anteriores, passavam a chamar-se então segundos e primeiros subchefes,
subchefes ajudantes, chefes de esquadra e segundos comissários. Havia no
entanto diferenças enormes. Enquanto que na tropa um galão de alferes ou dois
galões de tenente eram utilizados por rapazes novos, na policia o galão de
subchefe ajudante ou os dois galões de chefe de esquadra eram atribuídos, na
maioria dos casos, a homens velhos e quase em fim de carreira.
Assim como no exército, os quinhentos e
setenta novos guardas provisórios foram divididos por companhias e subdivididos
em pelotões. As primeiras formalidades, em consonância com o que se praticava
na tropa, foram preencher papelada e tirar a primeira fotografia fardado. Ao
contrário do que lhe acontecera com a farda do exército, dentro da farda de policia
Serôdio sentiu-se pateta. E depois que viu a fotografia do seu rosto, encimado
por aquele abominável boné, sentiu tristeza por ir abraçar aquela profissão.
Mas a vida tinha de ser ganha de alguma forma...(em continuação, pág. 81, ex. XXVIII)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003
Sem comentários:
Enviar um comentário