...Atravessadas montanhas de areia, na sua solitária e invisível jornada, depressa o deus Seth entrou na orla fluvial do Nilo. Encheu o peito e inspirou com sofreguidão o cheiro a terra molhada, empapada de sedimentos, que a nobreza do rio Nilo nela depositara. Estava privado de uma carícia, que até a um deus deixava saudades – o cheiro do vivificante Nilo. Mas, em contra-partida, não tinha regras a respeitar. Ele era o deus supremo do mundo que habitava - o reino das areias. E ali estava, à beira do Nilo, pronto a demonstrar a todos, que mantinha intactas todas as capacidades de um deus. Ir-lhes-ia fazer ver que melhor fora não terem feito dele um renegado.
Ao tocar com os seus pés na água fez
por se tornar visível. Tinha o corpo de um homem bem constituído, de tronco nu,
vestido pela cintura de roupagens militares, peças de cabedal, sobrepostas, que
lhe envolviam a cintura, pintadas de azul, vermelho e castanho. A sua cabeça,
composta por olhos e testa de águia, nariz e boca de chacal, virava-a em todas
as direcções, para assim poder ter a real percepção do meio que o rodeava.
A maciez da água fez-lhe fechar os
olhos de satisfação. Que bem precioso perdera! Tinha de dar um jeito na sua
condição. Ao sentir de novo aquele ambiente, tomava consciência do quanto grotesco
era viver entre escorpiões.
Já chegava de meditações. Num impulso
atirou o corpo para a frente e mergulhou nas cálidas águas do Nilo. Deu umas
braçadas na sua forma original, transformando-se seguidamente num peixe
tiláquia, fazendo-se envolver pelas moléculas que envolviam os siftos. E tomou
o rumo de MassiftonRá...
(em continuação, pág. 60, ex. XXIII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005
Sem comentários:
Enviar um comentário