...Finalmente
ia visitar Alfeizerão, a terra onde tivera lugar o grande caso que ultimamente
o trazia deveras interessado. Ele, na qualidade de advogado, se auto-nomeara
defensor dos interesses do pequeno Carlos Avilar. Uma tremenda atrocidade fora
cometida. Duplo crime, seguido de posse fraudulenta de uma herdade. Todo este
embuste só fora possível graças à tremenda confusão em que o país mergulhara
após a implantação da república. E em todo aquele processo incluía-se a
conivência do funcionário da conservatória, que forjara um documento falso. Não
deveria ter sido pequeno o suborno. O tal funcionário, responsável na altura
pela entrada do documento, demitira-se havia alguns anos e desaparecera de
Alcobaça. Graças à sua actividade de homem de leis, conseguira Américo Afonso
ter acesso ao documento e até copiá-lo, quando explicou que estava em jogo o
futuro de uma criança. Mas tudo isto precisava de ser provado. E também carecia
de prova a relação de parentesco entre o Carlos e o antigo morgado. Por isso
ali ia o jovem advogado, no propósito de conversar com alguém em Alfeizerão,
que lhe pudesse fazer luz em relação à penumbra que tornava obscuro todo o
conhecimento sobre a maneira pela qual o senhor Barreto Raposo se tornara dono
da tal herdade.
Américo
Afonso ia extremamente confiante. Conduzindo a sua recente aquisição, só
possível dada a razoável fortuna de seu pai, doutor Sebastião Afonso, sentia-se
um triunfador. E quando pensava na alegria expressa pela sua deslumbrante
Luísa, quando soube que ele ia abraçar a causa do pequeno Carlos Avilar, então
sentia-se com a força de Hércules para remover todos os escombros do tempo, um
grande monte, com doze anos de mentiras...(em continuação, pág. 122. ex. XLVII)
in Quando Um Anjo Peca
Março/1998
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