...O
automóvel era deslumbrante. De manhã, ao sair do Bombarral, resplandecia aos
primeiros raios do sol. Agora, que estava prestes a chegar a Alfeizerão, doze
léguas transpostas, o automóvel evidenciava as manchas da lama dos caminhos.
Mas mesmo assim, o preto da pintura mantinha-se magnífico. O automóvel fazia
lembrar os solenes coches de outrora. A área reservada aos passageiros tinha
forma rectangular, munida com quatro portas e compridas janelas. De ambos os
lados possuía longos estribos a todo o comprimento, que serviam para as pessoas
descerem ou subirem. Os mesmos estribos iam acabar por cima das rodas, para
guardarem as lamas que se desprendiam das rodas em movimento. Estas eram
magníficas. Eram constituídas por pneus pretos com orlas interiores pintadas de
branco e doze fortes raios. O vidro da frente era móvel, podendo-se levantar ou
baixar consoante a vontade do condutor. Por cima do vidro, agarrado a frisos
laterais, possuía uma pala exterior, a toda a largura do automóvel, para
proporcionar uma visão melhor ao seu condutor. O longo motor, com a cilindrada
de dois mil oitocentos e sessenta e três centímetros cúbicos e de duas
velocidades, estava tapado com duas abas de ferro. O bonito e fino aspecto do
automóvel era concluído com dois grandes faróis, suspensos por aros de ferro,
ligados a um excelente radiador que servia como uma bela tampa à estrutura
composta por motor e respectivas abas. O automóvel era de facto uma preciosa e
bonita invenção... (em continuação, pág. 122, ex. XLVIII)
in Quando Um Anjo Peca
Março/1998
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