Ontem vi com muito interesse o programa «Sexta às Nove», na
RTP 1. E conclui que o povo português, na verdade, está muitíssimo mal servido
de classe política…conclusão a que todo o país há muito chegou, no entanto. Mas
foi mais uma oportunidade para o constatar.
Lembro-me perfeitamente de em 2008 ter sido notícia a
descoberta de uma nau portuguesa nos areais da Namíbia. Fiquei interessado, mas
como nunca mais se falou no assunto, fui-o esquecendo. Até que ontem a RTP
trouxe à luz do dia esta vergonhosa postura de todos os governos portugueses,
desde 2008 até agora, relativamente àquela descoberta.
A Nau portuguesa «Bom Jesus», da carreira das Índias,
dirigia-se de Portugal para a Índia em 1533, quando ao chegar perto do Cabo
Bojador, lá no bico sul de África, onde então reinava o gigante Adamastor,
naufragou ao largo da Namíbia, sendo que os despojos deram à costa na «Costa
dos Esqueletos».
Em 2008, quatrocentos e setenta e cinco anos depois, quando
uma empresa fazia a prospecção de diamantes naquelas praias, algo de anormal
apareceu, pelo que todas as máquinas pararam e os arqueólogos de serviço foram
chamados ao local. Acabara de aparecer um canhão do século XVI. Imediatamente
começaram os trabalhos de escavação.
Hoje, num museu da Namíbia está guardado todo o espólio
entretanto encontrado da descoberta da Nau Portuguesa Bom Jesus, naquelas
areias da Namíbia, de que fazem parte canhões, peças de metal, alguns
esqueletos de marinheiros portugueses guardados em caixas, três valiosíssimos astrolábios,
os mais antigos do mundo (instrumentos de navegação inventados pelos
portugueses), de entre outros objectos…e 2000 moedas de ouro cunhadas com as
armas portuguesas, avaliadas em onze milhões de euros.
Pois bem: já passaram oito anos e todo este espólio repousa
na Namíbia à espera que o seu proprietário o reclame, pois que à face do
direito marítimo internacional, Portugal continua a ser o proprietário de todo
este espólio e tesouro, cabendo-lhe todo o direito de o reclamar.
Os repórteres da RTP, depois de concedidas as devidas
licenças, obtiveram autorização de filmar estes valiosíssimos pedaços de
história. No entanto, ao chegarem ao cofre onde foram guardadas as duas mil
moedas de ouro, na presença de uma representante do Banco da Namíbia, repararam
que os códigos que a ela haviam sido entregues para abrir o cofre, estavam
errados. Não o puderam fazer, tendo ficado sem saber quem tinha sido a última
pessoa que teve acesso ao mesmo cofre.
Questionada uma Secretária de Estado actual sobre as razões
que levaram o Estado Português a não ter ainda reclamado todo o espólio da Nau
Bom Jesus, encontrado em 2008 na Costa dos Esqueletos na Namíbia, a mesma, com
a maior falta de vergonha que se possa imaginar, respondeu que não foi feito
porque o Estado Português considera que todo o espólio está muito bem guardado.
Talvez como um governante respondeu há uns anos quando o
abordaram sobre a questão de Olivença, a vontade de fazer regressar a Portugal o
espólio da Nau Bom Jesus, preservado subterrado nas areias da Namíbia durante
quase quinhentos anos, não passe de folclore.
Que o patriotismo da classe política portuguesa deixa muito a
desejar, já o desconfiávamos…
Sem comentários:
Enviar um comentário