domingo, 18 de setembro de 2016

QUANDO CARROCEIROS PRETENSIOSOS DÃO ORDENS...

...Nesta vazia convicção Serôdio muito cedo tomou consciência de que estava a ser pessimamente comandado. Mas ele sentia não ter outras opções para a vida ou se as havia, não tinha capacidade para as vislumbrar. Na sociedade portuguesa era vulgar dizer-se que só ia para a policia quem não sabia fazer mais nada. Nada mais falso! Como veio a constatar, no seio dos seus colegas existiam pedreiros, carpinteiros, mecânicos, agricultores, serralheiros, canalizadores, electricistas... era um sem fim de profissões, que na esperança de melhoria de vida as abandonavam, para se abraçar à causa pública. Apenas ele e mais alguns como ele, com uma vida académica frustrada por variadíssimas razões, iam para a policia por não saberem fazer mais nada. Acaso o infortúnio não lhe tivesse batido à porta, estaria naquele momento, passados seis anos, a terminar um curso de medicina. Os lentes dos segredos da anatomia humana, que no seu imaginário existiram, foram na realidade substituídos por carroceiros ridiculamente pretensiosos. Onde raio se estava ele a meter?...(em continuação, pág. 84, ex. XXXII)

in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

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