terça-feira, 8 de agosto de 2017

MÉDICO E DEFENSOR DO IDEAL LIBERAL


- O meu pai conhece o Francisco Carvalho?

- Nunca ouvi tal nome.

- E o Ti Chico Aduelas?

- Esse sim. É talvez o melhor tanoeiro aqui da região. Muitas das nossas pipas e tonéis fê-las ele.

- Os dois são a mesma pessoa. Pois saiba que a falecida era filha dele.

         O meu pai fixou-me, em silêncio, benzendo-se. Depois disse:

- Pobre home. Mas pelo que me tem chegado aos oividos o matador que se cuide, pois o tanoeiro, quando lhe calcam os calos não é flor que se cheire. E outra coisa se não está à espera. Perder assim um home  uma filha, é obra.

         E só depois deste diálogo pude entrar em casa. Estava cansado, ansiava por um pouco de sossego, mas ainda tive de responder ao meu pai sobre questões relacionadas com a forma como o Conde de Cértima me havia recebido. Lá lhe contei que o fidalgo percebera perfeitamente que eu era defensor do ideal liberal, mas que tal não iria impedir que eu ali continuasse a ir, na qualidade de médico, ao que o meu pai respondeu que isso não era razão para ter cuidados, pois em que outra qualidade haveria eu de entrar naquela casa, senão na de médico?!

         E deixou-me só...(em continuação, pág. 47, ex. XXV)

in Alma de Liberal
Junho/2009

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