...Naquele seu primeiro
monótono giro em Aveiro, e enquanto ia fazendo uma retrospectiva do seu ainda
pequeno percurso policial, Serôdio recordou-se de mim, que o havia conhecido
naquele mesmo Domingo outonal, havia cerca de uma hora. Eu, colega dois anos
mais velho do que ele no serviço, debatia-me com os mesmos problemas que o afligiam,
ou seja, inadaptação ao ambiente interno da PSP. Foi no início da década de
oitenta que surgiram os primeiros conflitos de mentalidades, com a inserção no
seio da policia de elementos cujos horizontes eram um pouco mais abrangentes.
De um lado a velha guarda, formada por quase todos aqueles que haviam sido
alistados nos anos sessenta e setenta, velha guarda essa formada pelos três
patamares da hierarquia: guardas, subchefes e oficiais. Do outro lado estavam
os elementos (naquela época ainda poucos), que durante os sete anos liceais
haviam sustentado a ilusória esperança de um dia virem a ser doutores, onde eu
e o Serôdio nos enquadrávamos. No meio ficavam os que compunham uma já
considerável multidão, que tal como nós, havia pouco tempo tinham ingressado na
PSP, e cujo nível cultural os empurrava para o primeiro grupo, mas dada a sua
juventude e uma visão diferente, consentânea com o seu tempo, de alguma forma
sentiam necessidade em se juntarem ao segundo grupo...(em continuação, ex. XXXVII)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003
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