sábado, 24 de agosto de 2019

VISITANDO UM LUGAR SÓRDIDO, ANTRO DE SOLIDÃO


...Caminhavam em direcção a um talhão. Os jazigos tinham ficado para trás. O pai parara.

-         É aquela meu filho- disse tristemente o enfermeiro Victor.

Álvaro olhou para onde o pai indicara, uma sepultura recente, cuja cor castanha da terra molhada espreitava aqui e ali pelo meio de muitas coroas de flores, que contavam a história de um funeral abundante em gente, onde muitos olhos jovens haviam chorado lágrimas de profundo pesar, por uma vida que fora ceifada quando tão distante da morte estava.

-         É horrível ver este monte de terra.

-         Então Álvaro, ainda leva algum tempo até poder ter uma pedra tumular. Depois ficará mais composta.

-         Composta? Composta para quê? Sabes pai, não tem graça nenhuma visitar a morte. Nunca mais aqui venho.

-         Como nunca mais aqui vens? Por respeito, por amor, por saudade...

-         Pai, por respeito a Catarina quero vê-la onde ela merece estar, na minha memória, tornando eterna toda a sua beleza. Aqui, neste... neste lugar sórdido, antro de solidão e desolação, nada existe, absolutamente nada. Amor e saudade...- dizia Álvaro olhando o céu- mal de mim, mal de todos nós se buscássemos o amor e a saudade num sítio como este. Aqui até o céu azul, num dia de sol, se deve tornar baço. Pai, eu sei e sinto que se quero encontrar algo da Catarina, não é aqui que devo procurar. Vamos embora?

O enfermeiro Victor estava um pouco perplexo. Contrariamente ao que a lógica ditava, Álvaro ao ver a sepultura da namorada não se angustiara, como era de esperar. Pelo contrário, o seu corpo tornou-se menos flácido, o seu rosto ganhou alguma luz, no seu olhar existia mais brilho. (em continuação, ex. XXXVIII)
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