...Caminhavam em direcção a
um talhão. Os jazigos tinham ficado para trás. O pai parara.
-
É
aquela meu filho- disse tristemente o enfermeiro Victor.
Álvaro olhou para onde o
pai indicara, uma sepultura recente, cuja
cor castanha da terra molhada espreitava aqui e ali pelo meio de muitas coroas
de flores, que contavam a história de um funeral abundante em gente, onde
muitos olhos jovens haviam chorado lágrimas de profundo pesar, por uma vida que
fora ceifada quando tão distante da morte estava.
-
É
horrível ver este monte de terra.
-
Então
Álvaro, ainda leva algum tempo até poder ter uma pedra tumular. Depois ficará
mais composta.
-
Composta?
Composta para quê? Sabes pai, não tem graça nenhuma visitar a morte. Nunca mais
aqui venho.
-
Como
nunca mais aqui vens? Por respeito, por amor, por saudade...
-
Pai,
por respeito a Catarina quero vê-la onde ela merece estar, na minha memória,
tornando eterna toda a sua beleza. Aqui, neste... neste lugar sórdido, antro de
solidão e desolação, nada existe, absolutamente nada. Amor e saudade...- dizia
Álvaro olhando o céu- mal de mim, mal de todos nós se buscássemos o amor e a
saudade num sítio como este. Aqui até o céu azul, num dia de sol, se deve
tornar baço. Pai, eu sei e sinto que se quero encontrar algo da Catarina, não é
aqui que devo procurar. Vamos embora?
O enfermeiro Victor estava
um pouco perplexo. Contrariamente ao que a lógica ditava, Álvaro ao ver a
sepultura da namorada não se angustiara, como era de esperar. Pelo contrário, o
seu corpo tornou-se menos flácido, o seu rosto ganhou alguma luz, no seu olhar
existia mais brilho. (em continuação, ex. XXXVIII)
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