...Não mais entraria em
conflito com aqueles homens, até porque cada vez se viam menos. Durante muitos
anos eles haviam sido considerados os maus da sociedade. Os novos agentes
recebiam essa atroz herança assim que se alistavam nos quadros da PSP. Então
significava que a revolução de Abril não eliminara todos os maus, pois julgando
pela postura do povo relativamente aos policias pós 25 de Abril, os maus de outrora
continuavam a actuar nas ruas do nosso país. Eu e o Serôdio pertencíamos a esse
grupo repelente, a «essa gente» específica, expressão muito infeliz que por
algumas vezes ouvi ser proferida por dignos cidadãos, quando se referiam aos
agentes policias. Mas, se por uma improvável hipótese nós aceitássemos esse
papel, não haveria ao menos a possibilidade de se colocar a pergunta: e do
outro lado? Na parte externa da policia, existiam só santos? A esta pergunta,
anos depois veio a resposta. Sumptuosas figuras, banhadas pela ilustre luz da
cultura e sólida formação moral, em 1986 afiavam os caninos venenosos,
preparando-se para a grande batalha que estava prestes a começar. O seu alvo?
Nós, os maus da sociedade; nós, infelizes adolescentes do 25 de Abril de 1974,
que naquele sopro de liberdade muito longe estávamos de imaginar que, para nós,
aquele inebriante momento de um voo sem fronteiras se tornaria num
prolongamento de culpas alheias. Sim, nós, novos policias de 1983...(em continuação), ex. XLI
in Filhos Pobres da Revolta
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