domingo, 6 de outubro de 2019

REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO DE SER POLÍCIA NA DITADURA


Os seus colegas antigos, pobres diabos, haviam sido marionetes, que manipulados pelo regime fascista foram seres que, numa extrema infelicidade, se haviam arrastado por longos quarenta e oito anos de ditadura, sofrendo as agruras de uma impiedosa hierarquia, que lhes sugou o amor próprio, a individualidade, os proibiu de pensar, os privou do descanso e da relação com a família. Enfim, foram homens sem direito à cidadania e privados de vida própria. Eram estas vítimas, agora à beira da reforma, merecedores de mais afrontas? Deixá-los falar, coitados! No fundo desdenhavam, apenas para esconderem a vergonha que sentiam por nunca terem tido coragem de questionar as palavras dos chefes. Mas, os tempos também eram outros. Até os próprios elementos da PSP, do tempo da outra senhora, poderiam ter constas a prestar à PIDE, caso discutissem as ordens recebidas. Podia assim a sua atitude ser interpretada como actuação de agitador, e isso poderia sair-lhes caro. Sobre Portugal pairava a aterradora e sinistra sombra do Tarrafal de Cabo Verde...(em continuação, ex. XL)
in Filhos Pobres da Revolta

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