Os seus colegas antigos,
pobres diabos, haviam sido marionetes, que manipulados pelo regime fascista
foram seres que, numa extrema infelicidade, se haviam arrastado por longos
quarenta e oito anos de ditadura, sofrendo as agruras de uma impiedosa
hierarquia, que lhes sugou o amor próprio, a individualidade, os proibiu de
pensar, os privou do descanso e da relação com a família. Enfim, foram homens
sem direito à cidadania e privados de vida própria. Eram estas vítimas, agora à
beira da reforma, merecedores de mais afrontas? Deixá-los falar, coitados! No
fundo desdenhavam, apenas para esconderem a vergonha que sentiam por nunca terem
tido coragem de questionar as palavras dos chefes. Mas, os tempos também eram
outros. Até os próprios elementos da PSP, do tempo da outra senhora, poderiam ter
constas a prestar à PIDE, caso discutissem as ordens recebidas. Podia assim a
sua atitude ser interpretada como actuação de agitador, e isso poderia
sair-lhes caro. Sobre Portugal pairava a aterradora e sinistra sombra do
Tarrafal de Cabo Verde...(em continuação, ex. XL)
in Filhos Pobres da Revolta
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