Eu ainda não me tinha esquecido do miserável episódio de
Tancos, mas como o considero, muito provavelmente, a coisa mais abjecta que a
nossa democracia nos ofereceu, tenho-o mantido nos confins da minha memória. E
porquê?
A nossa
população que, cronologicamente, está abaixo do patamar dos…vejamos…58 anos de
idade, quando se deu o 25 de Abril tinha 13 anos. Com treze anos poucas coisas
relativas à política se retêm. Portanto, esses, muito provavelmente não
sentiram a verdadeira força da sigla MFA, que em 25 de Abril de 1974 incendiava
os espíritos revolucionários. «O Povo Está Com o MFA». Esta frase foi gritada,
por esses dias, milhões de vezes, por gargantas sedentas de justiça social e
nenhuma guerra no ultramar. Os que se encontram abaixo dessa faixa etária
tomaram conhecimento daquela sigla pela boca dos pais e pelos próprios rumores
da história. Isso é uma coisa, mas senti-la e gritá-la com dezoito anos de
idade, é outra completamente diferente.
Eu fui um
dos que gritou MFA- Movimento das Forças Armadas até à exaustão. Três anos
depois, em 1977, com imenso orgulho iniciei o meu serviço militar obrigatório
em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, essa escola de guerra, a mãe dos
infantes, e uma escola da vida. Por essa razão sei o que para Portugal
representam as Forças Armadas. Sim, eu sei que são fundamentais em todos os
países, mas em Portugal trouxeram algo mais, porque devolveram a liberdade ao
povo, liberdade essa de que a maioria dos que hoje formam o povo português
desconhece o verdadeiro e real valor.
Por isso
considero que vivemos, desde há dois anos, o golpe mais baixo, mais ordinário,
que a nossa democracia criou. Sim, porque este golpe foi possível apenas e só
porque a nossa democracia, de ano para ano, tem perdido os seus mecanismos de
defesa contra os fungos sociais, que lhe vão sugando a vitalidade e a seiva,
esse micróbio nojento e parasitário da corrupção, que apenas merece o
tratamento que o Otelo Saraiva de Carvalho, enquanto comandante do Cop-Con, há
muitos anos lhe queria reservar.
Depois de
tudo o que foi dito, e as últimas novas são explosivas, ainda continuo a não
perceber como foi possível que um plano, por mais bem elaborado que tenha sido,
conseguiu penetrar os muros de Tancos e conseguiu penetrar os paióis
propriamente ditos. Só este facto, completamente impossível no meu tempo de
tropa, porque um paiol era mais sagrado do que um altar de uma catedral, é uma
horrível machadada no digníssimo nome das Forças Armadas. Algo de muito, muito
anormal, aconteceu. E não serei eu aqui que escreverei essa suja hipótese, mas
que penso nela, isso penso. E é na verdade uma sombra negra.
E depois vem
o resto. Parece que «o fechaduras» (e é ao fim de quase dois anos que volto a
ouvir falar nele), depois de ter sido contratado pelo cérebro da operação, a
troco de 50000 euros, para abrir as fechaduras das Forças Armadas de Tancos, arrependeu-se
e denunciou a operação parece que ao Ministério Público de Loulé…três meses
antes do assalto (parece que estamos a falar de um assalto a um supermercado).
E a coisa deu-se na mesma. Horrível!
A política
anda agora aos trambolhões, ainda mais às portas de eleições legislativas.
Quanto mais mexem mais a coisa cheira mal.
Nos meses a
seguir ao 25 de Abril Portugal assistiu a saneamentos em série. Era tão bom
recuperar essa prática e sanear um valente punhado de gente miserável, que há
muito está a mais na nossa sociedade.
Que o povo
português continue a elevar bem alto o nome das Forças Armadas, esse valoroso
símbolo da nossa amada democracia, e aos que ousaram tentar denegrir as FA, recebam
o prémio que toda a indignidade de um povo lhes quer oferecer!
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