...Ptahknor não ficara nada satisfeito com a forma como
Sobek lhe ordenara que o seguisse. Agora, na presença do deus supremo, ouvindo
as suas palavras, teve a certeza de que Seth fora detectado em MassiftonRá, e
em consequência disso, fora também descoberta a sua deslealdade para com
MassiftonRá e o deus Sobek. Por tal razão, Ptahknor resolveu não arrastar mais
aquela difícil situação, pelo que de imediato se confessou.
-
Divino mestre, pelas tuas sábias palavras já percebi que
descobriste a minha enorme falta.
-
Falta? Chamas simplesmente falta à permissão da entrada
de Seth em MassiftonRá?!- dizia Amon-Rá com enorme ira- tu foste escolhido para
Bhokurac porque preencheste os requisitos exigidos para o cargo: inteligência,
coragem, honra e lealdade. Mas afinal não passas de um dissimulado. O que
realmente te interessa é usurpares o lugar de Sobek. Tu não cometeste uma
falta, tu cometeste um crime. Seth é inimigo de MassiftonRá; tu sabes isso
muito bem, pois pertences à guarnição de guardiães. MassiftonRá é demasiado
perfeito para permitir que um ser abjecto como tu conspurque as suas águas.
Sobek- disse Amon-Rá, dirigindo-se ao deus crocodilo- não quero mais ouvir
falar de Ptahknor. Por isso resolve a questão. És tu o responsável por todos os
guardiães de MassiftonRá.
-
Devolvo-o à normalidade das águas do Nilo- disse Sobek, como
que pedindo a opinião ao deus supremo.
-
Sobek, esse Bhokurac cresceu demais. Tornar-se-ia
incómodo tanto para os crocodilos do Nilo, como para os humanos.
-
Então...- questionava Sobek, sem perceber bem o que
Amon-Rá queria que fosse feito com o crocodilo Ptahknor.
-
Sobek, esse crocodilo não é merecedor de viver nas águas
do Nilo- sentenciou Amon-Rá, afastando-se, dirigindo-se para o interior do
mundo dos deuses.
-
Já percebi- disse Sobek, em jeito de comentário.
-
Não vou mais viver no Nilo, é isso?- perguntava Ptahknor
com incredulidade.
-
E o que é que esperavas? Ser Bhokurac é ter muitas
responsabilidades, meu caro. Fugir a elas é condenar-se. Foi o que tu fizeste.
Por essa razão, ao romper do sol irás abandonar as águas do Nilo...
-
E vou viver como? Sobek, queres matar-me?
-
Não Ptahknor, não te quero matar. Apenas quero cumprir as
ordens de Amon-Rá. Deixa que te diga que é com grande satisfação que o faço,
pois não te mereço a ingratidão que demonstraste ter por mim. A partir do
romper do sol vais-te tornar inimigo de MassiftonRá. Não tentes viver no Nilo,
pois serias atacado pelos Taaril; por outro lado, também não poderás viver no
Nilo, pois vais estar anatomicamente impossibilitado de o fazeres.
-
Anatomicamente? Que queres dizer com isso, Sobek?
-
Tens até ao nascer do dia tempo para saíres das águas do
Nilo. Assim que o fizeres, o teu corpo de crocodilo dará lugar ao corpo de uma
hiena, uma enorme hiena, e irás viver para o deserto. É esta a minha decisão.
Agora desaparece Ptahknor. Aqui não és mais benvindo.
Ainda o sol não raiara, e uma enorme hiena foi vista, por
alguns felas, a beber nas águas do Nilo. Os homens de imediato lhe deram caça.
A hiena foi obrigada a afastar-se rapidamente, tomando a direcção do deserto,
sendo perseguida pelos homens, aos berros. A hiena corria, enquanto assistia às
últimas gotas da água do Nilo abandonarem o seu corpo. O deserto a aguardava.
Quem sabe, talvez um dia se tornasse poderosa, a ponto de poder enfrentar Seth,
o deus do deserto, o deus que amaldiçoara a sua vida…(em continuação, ex. XXXIV)
in A Causa de MassiftonRá
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