Tudo na vida tem um principio. A própria vida teve um principio. E cada um de nós tem um momento certo, o primeiro, que deu início ao desencadear dos segundos, esses milhões, que nos trouxeram até a este preciso momento. O meu primeiro segundo, aconteceu algures, nas primeiras horas do dia 30 de Abril de 1956.
Mais fácil é para nós determinarmos o momento exacto do nosso nascimento, do que definir o primeiro momento dos muitos nascimentos que em nós aconteceram. Porque em nós muitas coisas nasceram, entretanto.
Por uma casualidade, sei o momento certo em que em mim nasceu o amor pelas letras, muito embora o já tivesse, inconscientemente.
Foi num dia da primavera de 1973. Frequentava então o antigo 4º ano dos liceus, no Liceu D. João III, em Coimbra. Existia um professor de português, orientador de todos os professores daquela disciplina no liceu, e que por sinal era o meu professor de português- o Dr. Margarido. E o Dr. Margarido, não sei porque razão, resolveu dar o mesmo tema a todas as turmas do 4º ano
para que fosse feita uma redacção. Já não me lembro qual era o tema. O que recordo, com muito orgulho, é que a minha redacção foi a que teve a melhor nota do liceu.
Para um adolescente, que eu era, este acontecimento teve uma importância crucial para a minha vida. Não que dele viesse a obter algum proveito económico, que a vida não me levou por esse caminho, mas preencheu-me o ego, e fez-me ver que, se calhar, não tinha sido uma mera casualidade o facto de eu ter redigido a melhor redacção. A tal ponto me deu força, que um mês depois eu estava a criai o meu primeiro livro- O Primeiro Amor da Adolescência, era o seu título. Perdi-lhe o rasto, mas não mais o esqueci. Eram oitenta páginas, que demoraram três meses a ser escritas.
Não mais me desliguei da lapiseira e do papel. No entanto, por varíadissimas razões, a chama da escrita criativa apagou-se do meu intelecto. Até aos meus quarenta anos. Aí senti uma pressão enorme a crescer, a qual tinha de libertar. Em Dezembro de 1996 comecei a escrever...e não mais parei. Os meus mundos, tenho-os visto ganhar consistência. As personagens têm-se multiplicado. Hoje são uma multidão que me acompanha e exige mais companhia. Editar?
Em Portugal, os autores pertencem a uma elite da qual eu me encontro a uma incomensurável distância. Sou um anónimo sem a obsessão de se tornar conhecido. Acredito profundamente que um dia irá existir um descendente meu, que se irá envolver com editoras, tendo por base os romances que vou compondo.
Por agora, do meu trabalho, na solidão do meu canto, obtenho a enorme felicidade que sinto na interacção que mantenho com o António Avilar, ou o Álvaro Santa Cruz, o Serôdio Velasquez, o Masahemba, ou ainda o doutor Joaquim Lopes, a Maria Clara, o Jack Horn ou o Mão de Mula, algumas das muitas personagens que me fazem rir, chorar...sentir-me realizado!
Obrigado Dr. Margarido.
Mais fácil é para nós determinarmos o momento exacto do nosso nascimento, do que definir o primeiro momento dos muitos nascimentos que em nós aconteceram. Porque em nós muitas coisas nasceram, entretanto.
Por uma casualidade, sei o momento certo em que em mim nasceu o amor pelas letras, muito embora o já tivesse, inconscientemente.
Foi num dia da primavera de 1973. Frequentava então o antigo 4º ano dos liceus, no Liceu D. João III, em Coimbra. Existia um professor de português, orientador de todos os professores daquela disciplina no liceu, e que por sinal era o meu professor de português- o Dr. Margarido. E o Dr. Margarido, não sei porque razão, resolveu dar o mesmo tema a todas as turmas do 4º ano
para que fosse feita uma redacção. Já não me lembro qual era o tema. O que recordo, com muito orgulho, é que a minha redacção foi a que teve a melhor nota do liceu.
Para um adolescente, que eu era, este acontecimento teve uma importância crucial para a minha vida. Não que dele viesse a obter algum proveito económico, que a vida não me levou por esse caminho, mas preencheu-me o ego, e fez-me ver que, se calhar, não tinha sido uma mera casualidade o facto de eu ter redigido a melhor redacção. A tal ponto me deu força, que um mês depois eu estava a criai o meu primeiro livro- O Primeiro Amor da Adolescência, era o seu título. Perdi-lhe o rasto, mas não mais o esqueci. Eram oitenta páginas, que demoraram três meses a ser escritas.
Não mais me desliguei da lapiseira e do papel. No entanto, por varíadissimas razões, a chama da escrita criativa apagou-se do meu intelecto. Até aos meus quarenta anos. Aí senti uma pressão enorme a crescer, a qual tinha de libertar. Em Dezembro de 1996 comecei a escrever...e não mais parei. Os meus mundos, tenho-os visto ganhar consistência. As personagens têm-se multiplicado. Hoje são uma multidão que me acompanha e exige mais companhia. Editar?
Em Portugal, os autores pertencem a uma elite da qual eu me encontro a uma incomensurável distância. Sou um anónimo sem a obsessão de se tornar conhecido. Acredito profundamente que um dia irá existir um descendente meu, que se irá envolver com editoras, tendo por base os romances que vou compondo.
Por agora, do meu trabalho, na solidão do meu canto, obtenho a enorme felicidade que sinto na interacção que mantenho com o António Avilar, ou o Álvaro Santa Cruz, o Serôdio Velasquez, o Masahemba, ou ainda o doutor Joaquim Lopes, a Maria Clara, o Jack Horn ou o Mão de Mula, algumas das muitas personagens que me fazem rir, chorar...sentir-me realizado!
Obrigado Dr. Margarido.
3 comentários:
Caro amigo,
nem todos têm as cores do arco-iris no sangue e muito menos uma lua cheia batendo dentro do peito.
Coração de poeta é diferente..e vc sabe disto.
Obrigada pelo post e pela delicadeza.
Gostei muito do texto e:
Quando você se sentir sozinho, pegue o seu lápis e escreva.
No degrau de uma escada,
à beira de uma janela,
no chão do seu quarto.
Escreva no ar, com o dedo na água, na parede que separa o olhar vazio do outro.
Recolha a lágrima a tempo,
antes que ela atravesse o sorriso e vá pingar pelo queixo.
E quando a ponta dos dedos estiverem úmidas, pegue as palavras que lhe fizeram companhia e comece a lavar o escuro da noite,
tanto, tanto, tanto...
até que amanheça.
Rita Apoena
Caro poeta,
A sua escrita ficou baptizada, e bem, pelo mérito que lhe foi reconhecido pelo seu trabalho. É um bonito ponto de partida para iniciar um percurso de redacção.
Eu chamaria, no entando, a sua atenção, para o facto de os professores terem a dupla capacidade de promover ou dissipar o escritor que há em cada aluno.
Até hoje, apenas um docente me revelou que ao ler o que o aluno produzia, tentava corrigir mediante o estilo e pensar do mesmo enquanto escritor, ao invés de classificar ou qualificar o material produzido com base nas suas próprias concepções sobre o tema, estilo, etc.
O que pensa sobre esta perspectiva?
Marcelo Melo
Meu caro Marcelo, a arte, em todas as suas vertentes,necessita de sensibilidade para ser criada e para ser apreciada, obviamente. Eu não sou professor. Não faço a mínima ideia do que poderá passar pela cabeça de um professor, ao confrontar-se com um trabalho que em muito ultrapassa o considerado meramente bom. Talvez pense que não é pago, nem lhe é exigido que descubra talentos...no caso de ter sensibilidade para detectar um talento. E se for pessoa de poucos escrúpulos,(porque há professores também sofrem desse mal), não terá uma palavra de estímulo para com o aluno, porque o incomoda ter perante si uma peça que ele próprio não conseguiria fazer, muito embora ensine como se fazem peças daquelas.
Aplaudo os professores que têm a humildade de considerarem que um seu aluno, executou uma peça que ele, professor, nunca conseguiria fazer, muito embora seja professor dessa disciplina.
Suponho que a maioria dos críticos literários, serão incapazes de escrever um parágrafo, que seja, de escrita criativa. Muito embora saibam como se faz, não o conseguem fazer. È que saber como se faz e fazer são coisas bem distintas.
Sinceros cumprimentos, meu jovem e criativo amigo.
Fareleira Gomes
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