Hoje, neste
passeio de Domingo, percorremos a Rua Direita, onde os nossos passos agora se
podem expandir livremente, sem a preocupação de trânsito automóvel, e vamos de
novo em direcção à Ponte Praça. Mas, á esquina do robusto edifício da Câmara
Municipal, vemos espreitar á nossa esquerda a Praça da República. E como que
respondendo a um apelo da história, somos atraídos para junto da estátua do
ilustre José Estevão.
Claro, a
estátua erigida em memória de um aveirense ilustre, que viveu num período
conturbado da nossa história…é deste homem que nos fala o dito apelo, não é?
Não, não é!
Pelo menos por hoje não é.
Diz-nos a
história, nos apontamentos históricos de Rangel de Quadros, que no dia 20 de
Janeiro de 1524 D. João III, por ocasião de um surto de peste, ofereceu a
Aveiro uma relíquia do mártir S. Sebastião. A oferta desta relíquia deu origem
a uma procissão, a procissão de S. Sebastião, que se começou a realizar em
todos os dias 20 de Janeiro, dia da oferta da relíquia.
A relíquia
ficou guardada num primoroso cofre da Igreja Matriz de S. Miguel, que tinha
três chaves, cada uma delas guardada pelo pároco da igreja, pelo juiz de fora e
pelo procurador da vila.
Perguntar-me-iam:
mas a igreja matriz de Aveiro não é a Sé?
É…agora-
responderia eu.
Ainda com a
dúvida a assolar a mente, voltar-me-iam a perguntar: Igreja de S. Miguel? Onde
fica, que não conheço?
A memória é
poderosa. Faz com que o que se perdeu no tempo continue vivo ou edificado, como
se nunca tivesse deixado de existir. E a memória da história é profunda.
Na
realidade, a que foi, em Aveiro, a Igreja Matriz de S. Miguel, existiu na área
onde agora se levanta a estátua a José Estevão. Por isso o apelo da história,
de há pouco, era tão forte.
A Igreja de
S. Miguel poderia bem ser um dos monumentos mais antigos de Aveiro, se não
mesmo o mais antigo, pois os documentos fazem menção a ela em 1209.
Foi demolida
em 1835 por vontade do regime liberal, implementado em Portugal no ano
anterior, em 16 de Maio de 1834, depois de uma sangrenta guerra civil. Regime
liberal, que em 1828 ficou em dívida para com Aveiro. Mas isso são contas de um
outro rosário, a abordar oportunamente.
Com a
demolição da Igreja de S. Miguel, foi interrompida a celebração da oferta da
relíquia de S. Sebastião através de procissão anual, que veio a ser retomada em
1857, saindo então a procissão da capela de S. João Batista, no Rossio, capela
que também acabou por ser demolida em 1911.
Em relação á
relíquia de S. Sebastião, tão ciosamente guardada no altar-mor da Igreja de S.
Miguel, não nos foi possível, nos nossos parcos conhecimentos, encontrar
informação que nos elucide sobre o seu destino.
Decerto que
no sítio onde um dia, durante alguns séculos, a Igreja de S. Miguel ocupou espaço
ao espaço, se encontram ainda milhentos átomos da sua estrutura. Talvez por
isso a Rádio «ÁS» seja uma rádio simpática e aberta à comunidade, pois que o
seu estúdio ocupa espaço ao mesmo espaço que um dia a Igreja de S. Miguel
ocupou.
Igreja de S.
Miguel, uma memória de Aveiro que apenas existe na vontade dos homens em não
querer esquecer.
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