Há muito que o sol se pusera. O templo de Amon-Rá, em
Tebas, estava profundamente silencioso. Embora a escuridão preenche-se todos os
recantos do templo, das suas pedras de granito ainda se exalava algum calor,
absorvido pela intensa acção do deus astro, durante o tempo em que iluminara a
vida dos homens, e actuara beneficamente nas sementes enterradas na terra
enriquecida pela recente cheia do rio Nilo.
Do exterior dos muros do templo chegavam ténues sons,
indícios de que a vida dos homens decorria na sua normalidade, embora naquele
momento fosse uma vida com muito pouca actividade. No céu, a lua, rodeada por
incontáveis estrelas, irradiava a sua luz prateada. Vista sob o silêncio do
lajedo do templo, era uma visão magnífica. O silêncio era de tal forma
profundo, que deixava ouvir o suave murmurejar da água do Nilo, que meigamente
enchia o tanque sagrado.
Masahemba dormia no catre que lhe servia de cama. Por
isso não deu conta de que uma forma fortuita penetrara os muros do templo, e
dirigia-se para ele. A forma deslocava-se rapidamente, tendo-se detido ao
chegar junto ao Sumo-Sacerdote. Alguma força superior entrou em contacto com a
mente de Masahemba, pelo que o Sumo-Sacerdote acordou. Acordou e assustou-se,
pois junto a si encontrava-se uma criança que o fitava intensamente. Num
impulso, Masahemba ergueu o tronco, ficando sentado. Na escuridão, a criança,
irradiava uma espécie de auréola, pelo que se tornava bem visível. Masahemba
não tinha a certeza se estava acordado. Aquela visão poderia bem fazer parte de
um sonho.
- Que fazes
aqui, rapazinho?- perguntou o Sumo-Sacerdote.
- Levanta-te-
disse o rapazinho, ignorando a pergunta que lhe fora feita.
- Como conseguiste
aqui entrar?- perguntou Masahemba, ignorando, por seu turno, a ordem que lhe
fora dada.
- Levanta-te
Masahemba- ordenou de novo o rapazinho.
- Como é que
sabes o meu nome, rapazinho?
- Eu não sou um
rapazinho.
- Então fazes
parte de um sonho, porque tens toda a aparência de um rapazinho.
- Dizes bem,
aparência, porque esta forma é apenas uma ilusão de óptica. Segundo as leis da
MassiftonRá, tu, como mortal, nunca devias vir a saber da minha existência. Mas
dadas as circunstâncias excepcionais…
- Espera aí…
espera aí… o que é isso de MassiftonRá ?-
perguntou o Sumo Sacerdote bastante intrigado.
- Eu venho em
missão urgente…
- Explica-te,
danado de garoto- disse Masahemba, interrompendo o rapazinho, ao mesmo tempo
que se punha de pé.
- MassiftonRá é
o local escolhido pelos deuses para viverem. Em MassiftonRá, os deuses reunidos
formam o conselho. Eu sou um obreiro de MassiftonRá. A mim e aos meus irmãos
obreiros os deuses chamam-nos siftos. Na minha forma original sou um peixe, um
peixe do rio Nilo, o qual alberga nas profundezas das suas águas o local divino
de MassiftonRá. A tua curiosidade está agora saciada?
- Bem… sim… não
sei se…
- Vamo-nos
deixar de evasivas. Tu, na qualidade de Sumo Sacerdote de Amon-Rá, tens a
obrigação de rapidamente assimilares esta informação, de a compreenderes e de a
guardares em profundo sigilo...(em continuação, pág. 45, ex. XV)
in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ
Março/2003
in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ
Março/2003
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