...Vamo-nos deixar
de evasivas. Tu, na qualidade de Sumo Sacerdote de Amon-Rá, tens a obrigação de
rapidamente assimilares esta informação, de a compreenderes e de a guardares em
profundo sigilo.
- Sim…
compreendo… MassiftonRá… o local onde vivem os deuses- dizia Masahemba,
enquanto endireitava o tronco, na tentativa de melhor compreender, de uma
assentada, o que naquele momento lhe fora transmitido e de que ele nunca ouvira
falar.
-É assim tão
difícil para ti aceitares a ideia de que os deuses também têm direito a viver
em algum lugar?
- Não, claro que
não; só que nunca pensei que os deuses tivessem necessidade de algo tão
primário como isso.
- Os homens
foram feitos à semelhança dos deuses. Isso determina que exista uma certa
reciprocidade entre os homens e os deuses. Um homem é um deus numa escala
muito, muito reduzida. Mas nos deuses alguns traços têm semelhanças com os
homens; e a necessidade de se ter a sua casa é um deles. Mas já perdi imenso
tempo.
- Como é que te
chamas?- perguntou Masahemba, com a incredulidade estampada no rosto.
- Eu não tenho
nome. Eu não me chamo, eu sou um sifto. Fora da água tomo esta forma, pois as
missões de que sou incumbido baseiam-se sempre no bem, tal como no bem vivem as
crianças. Mas estou aqui numa missão muito especial.
- Sim, está bem,
mas eu gostaria de saber…
- Ouve Masahemba-
disse o sifto, interrompendo o Sumo Sacerdote- já reparei que estás
extremamente curioso em relação à estrutura social dos deuses, estrutura essa
que tu desconhecias existir. Mas a tua curiosidade não te leva a
questionares-te porque razão aqui me encontro?
- Sabes
rapazinho, tu és de tal forma misterioso, que na verdade eu apenas me sinto
maravilhado perante a tua presença. Mas já que fizeste essa observação, penso
que a tua presença terá algum significado para mim. És uma dádiva dos deuses?
- Não, não sou
uma dádiva. Sou um aviso, um alerta!
- Um aviso?-
perguntou Masahemba intrigado.
- Um aviso vindo
directamente de Amon-Rá.
- Amon-Rá, o meu
divino mestre?
- Exactamente.
Amon-Rá avisa-te de que corres um grande perigo. Neste preciso momento decorre
uma reunião no palácio do faraó, em que está a ser decidido que tu vais passar
à condição de prisioneiro, como tal, escravo.
- Mas porquê?
Que fiz eu de errado? Já percebi que o faraó não simpatiza comigo, mas daí a
transformar-me em escravo?!
- O que fizeste
de errado foi seres o Sumo Sacerdote de Amon-Rá.
-Como?
- É isso mesmo
que ouviste. Por um lado o faraó não aceita que tu, um estrangeiro, ocupes um
cargo tão elevado como o de Sumo Sacerdote do deus supremo. Por outro lado, o
faraó abandonou o culto a Amon-Rá, por ter sabido que o deus supremo não aceita
que Nefertiti, a sua sacerdotisa, venha a ser rainha do Egipto. Por essas
razões o faraó decidiu encerrar este templo e enviar-te para o nível mais baixo
da estrutura social dos homens- a escravatura. Mas Amon-Rá não aceita que isso
te aconteça. És demasiado querido para o deus supremo, para que te veja
transformado num escravo. Por isso tens de abandonar este templo ainda esta
madrugada.
- E vou para
onde?
- Recorre a toda
a tua capacidade de sobrevivência e astúcia, para escapares ao rancor que o
faraó nutre por ti.
- Terei a
protecção de Amon-Rá?
- Na medida do
possível.
- Na medida do
possível? A vontade do faraó é mais forte do que o poder do deus supremo?
- Amon-Rá é
senhor na espiritualidade. No que diz respeito ao ambiente dos homens- o factor
material, o deus supremo pouco pode fazer. Dar-te-á o apoio que lhe for
possível oferecer-te.
- Então se eu
for apanhado, espera-me a miserável condição de escravo, e Amon-Rá não terá
meios de me resgatar, é isso?
- Não te posso
responder peremptoriamente a essa questão, Masahemba. Acho que algo o deus
supremo poderia fazer, mas decerto que, essencialmente, terias de contar quase
exclusivamente contigo mesmo. Mas para evitar essa situação é que eu fui enviado.
Tens ainda algum tempo. Para onde fores, eu acompanhar-te-ei. Amon-Rá precisa
de saber exactamente onde te vais esconder.
- E eu sei lá!!
- Procura em ti
esse conhecimento. Amon-Rá tem a total certeza de que a indomável força dos
reinos do sul, adormecida em ti, vai despertar e dar-te a resposta.
- Bem, sendo
assim- dizia Masahemba, reflectindo, enquanto olhava em todas as direcções-
quando o faraó entrar no templo e me não encontrar, logicamente me irá procurar
no exterior. Se eu estiver escondido no interior do templo, ele não me
encontra, certo?
- Certo. E esse
esconderijo existe no templo?- perguntou o sifto.
- Espero que
sim, acho que vai ter a capacidade de iludir o olhar observador do faraó.
- E onde é?
- Vamos para lá-
disse Masahemba, começando a dirigir-se para o tanque sagrado...(em continuação, pág. 48, ex. XVI)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005
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