Durante uma
semana, no mês passado, nos programas da manhã, a Rádio Renascença dedicou
pequenas rubricas ao centenário da eclosão da I Grande Guerra, que aconteceu no
dia 28 de Julho de 1914. E fê-lo, com a sensibilidade histórica de quem
respeita a memória dos seus combatentes.
E confesso
que enriqueceu os meus conhecimentos sobre o envolvimento de Portugal neste
conflito, através do Corpo Expedicionário Português. E conseguiu-o, porque
muito embora há muito que dedique a minha atenção á última batalha em que
tropas portuguesas se viram envolvidas- a Batalha de La Lys, também conhecida
por Armentiéres, nos pântanos da Flandres, em 9 de Abril de 1918, eu nunca
tinha ouvido citar o nome de um herói nacional, completamente esquecido, do
qual, esta semana a Rádio Renascença trouxe a memória á luz do dia- o soldado
Aníbal Augusto Milhais, que ficou conhecido como o «Soldado Milhões».
O Soldado
Milhões, nesse trágico dia 9 de Abril de 1918, em que vários milhares de
soldados portugueses sucumbiram á avalanche alemã, completamente sozinho na sua
trincheira, apenas acompanhado pela sua metralhadora Lewis, enfrentou as
colunas alemãs, retardando o seu avanço, o que permitiu a retirada a muitos
seus camaradas portugueses e também a soldados ingleses, para as posições
defensivas. Deambulando pelas trincheiras, o Soldado Milhões salvou ainda um
médico escocês de morrer afogado num pântano no local da batalha, médico este
que deu conta do heroísmo do nosso soldado, natural de Valongo- Murça, em
Trás-Os-Montes, ao exército aliado.
O Comandante
Ferreira do Amaral diria, mais tarde, que o Soldado Aníbal Milhais, embora
sendo «Milhais», valia por Milhões, daí a sua alcunha.
O Soldado
Milhões é o único militar português, sem qualquer patente, ainda hoje,
condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito,
por bravura demonstrada no campo de batalha.
Aníbal
Augusto Milhais faleceu a 3 de Junho de 1970.
De um outro
português, 96 anos depois, merece bem esta simples homenagem.
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