Estou muito feliz. Já tinha perdido as esperanças de ver
Portugal a ganhar o Festival da Eurovisão.
A minha geração começou a acompanhar o Festival da Eurovisão
praticamente ao entrar para a escola primária. Eu comecei na escola primária em
1962, e dois anos depois realizou-se o primeiro Festival da Eurovisão. Ainda me
lembro muito bem de ver a cantora inglesa Sandie Shaw, surgir em palco
descalça, em 1967, e nesse festival arrebatar o primeiro lugar. Desde logo
comecei a amealhar desilusões, e algumas bem difíceis de digerir, já que por
vezes levámos músicas muito bonitas.
Estou bem consciente do que escrevi antes e por tal razão, e
pela primeira vez, muito satisfeito por os júris não terem concordado comigo, e
a Europa em geral. Afinal a nossa música teve uma melodia com capacidade para
derreter corações. Quebrou-se o enguiço, e de uma forma o mais simples
possível: uma música acompanhada apenas com piano, com uma letra extremamente
intimista e interpretada de uma forma suave, muito peculiar. Uma música «feita
de sentimentos», como afirmou o seu intérprete Salvador Sobral. Não haja dúvida
de que o jazz é uma enorme escola.
O Salvador foi mesmo o nosso Salvador e por isso se imortalizou
na história da música em Portugal. É verdade!
Foram 53 anos a tentar. E ele foi o primeiro a consegui-lo,
com uma música escrita pela sua irmã Luísa Sobral a quem também devemos esta
honra. Por isso dar aos irmãos os meus parabéns acho que é muito pouco, mas nada
mais tenho para lhes oferecer, a não ser estas palavras de gratidão muito
sentidas.
E, claro, a minha promessa de que, no próximo inverno, com
imenso prazer, ao som da vossa e nossa «amar pelos dois», ao calor de uma
lareira, à vossa saúde e à de Portugal, erguerei bem alto um cálice de
aguardente velha bem portuguesa.
Muito obrigado Luísa e Salvador Sobral!
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