Durante muitos anos fui um fervoroso seguidor do Festival da
Canção e do Festival da Eurovisão. Noite de festival na televisão, para mim era
noite de alegria e entusiasmo. Foi dessa forma que pude acompanhar o despontar
de um carreira de tremendo sucesso, do grupo sueco ABBA, que em 1974 venceu o
Festival da Eurovisão com a imortal música «Waterloo».
Mas, nesses meus muitíssimo bem acompanhados anos dos
festivais, em que em Portugal se apostava em nomes sonantes da nossa canção,
como António Calvário, Madalena Iglésias, Simone de Oliveira, Tonicha, Fernando
Tordo, Paulo de Carvalho, José Cid, Carlos Paião, etc…, a seguir ao
empolgamento ao ver a nossa canção em palco, vinha a frustração e o sentimento
de injustiça imperava, ao ponto de abandonar a sala da televisão «de trombas». É
que, durante muitos anos, levámos músicas de muita qualidade. No entanto, a
melhor classificação que obtivemos até hoje foi um 7º lugar. Na generalidade
ficámos sempre nos últimos lugares, senão mesmo com a lanterna vermelha nas
mãos. Durante muitos anos, e na minha concepção de música, uma ou outra vez
levámos canções que mereciam o primeiro lugar ou uma classificação acima do
sétimo. Mas isso nunca aconteceu. Dizia-se que era a política a mandar.
Aceitava-se. Portugal estava sob uma ditadura, o que era desprestigiante para o
país. Mas depois veio o 25 de Abril, com a nossa Revolução dos Cravos, cheia de
música e poesia, que nos trouxe a democracia, que nos colocou democraticamente
em pé de igualdade com o resto da Europa. Mas nada aconteceu. Continuámos no
Festival da Eurovisão a coleccionar lanternas vermelhas ou quase, mesmo quando
em disputa com países recém criados, após a queda do muro de Berlim e o colapso
da União Soviética. Perante esta persistente e, na minha opinião, pré-concebida
má classificação, os cantores de nomeada deixaram de apostar no Festival da
Canção, e iniciou-se um processo em que o Festival da Canção se transformou
numa rampa de lançamento para novos nomes. Na minha opinião o Festival da Canção
perdeu qualidade e eu desinteressei-me.
Hoje à noite, como tem acontecido em muitas outras noites, o
nosso cantor parece ser a estrela da companhia. Parece que aquela plateia o vai
ovacionar com profunda emoção. Das outras vezes essas demonstrações de
entusiasmo revelaram-se «autênticas montanhas a parirem ratos».
A nossa canção que logo subirá ao palco é bonita, mas não
passa de uma balada para ouvir à lareira numa noite de chuva. Não tem aquele
carisma, aquela força necessária.
Mas como o nosso cantor é um Salvador…quem sabe!
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