Faleceu Madalena Iglésias, aos 78 anos de idade. Senti um
pequeno vazio quando soube a notícia. A princípio não percebi porquê. A música
que ela cantou não me era particularmente grata. Aliás, no seu tempo áureo
nenhuma música me era interessante, pois que eu era um miúdo. Mas reparei então
que é aí mesmo que reside o facto de a sua morte me ter tocado: ela é um
símbolo da minha infância. E agora que tenho esta boa idade, cada vez mais
sinto como pode ser importante a infância para toda a vida adulta do ser
humano. É que, naqueles dias felizes, até aos meus dez anos, lembro-me de ouvir
as rivalidades (hoje reconheço quase pueris) entre a Madalena Iglésias e a Simone de Oliveira, as
tricas da rádio, as rainhas da rádio ou o rei da rádio (o António Calvário),
lembro-me das opiniões dos meus pais sobre a Madalena Iglésias, recordo muito
bem o festival de 1966, em que eu tinha dez anos, e a sua vitória nesse
festival com a canção «sei quem ele é, pois é um bom rapaz, um pouco tímido
até…».
Recordo um pequeno mundo bonito que,
dia-a-dia se desenrolava perto de mim, em que estava presente a Madalena
Iglésias, e que então me fazia muito feliz.
Claro que eu não tinha consciência ainda do mundo feio que,
um pouco mais distante, para lá da porta da minha casa, existia, e fazia com
que, na maioria dos lares portugueses, se estivesse permanentemente com os
olhos postos em África.
É verdade que hoje em dia uma grande fatia da nossa sociedade
não sabe quem foi a Madalena Iglésias;
claro que nada fez para ser recordada na Assembléia da
República. Mas inscreveu o seu nome na minha infância, tornando-a um pouco
mais…musical.
Obrigado Madalena Iglésias!
2 comentários:
Não sabia do falecimento :(
É bom voltar aqui...
Lembra-me do início do meu blogue... o seu foi dos primeiros que visitei :)
Um abraço amigo
Paula do blogue ...viajar pela leitura...
Olá Paula. Que bom recebê-la e sentir que se sente aqui bem. Pois, a vida é assim. Neste caso, palavra atrás de palavra, juntamos um enorme monte delas, que transmitem pedacinhos de nós, e quando damos conta vemos dez anos passados. Mas cá continuamos, eu e a Paula, cada um no seu cantinho, continuando a dar ao mundo pequenos traços de nós mesmos...esperamos que imbuídos com algum interesse. Gostei imenso de a voltar a receber. Um abraço.
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