... O céu estava nublado,
cinzento. Um olhar triste, macilento, revelador de um estado de espírito
devorado pela falta de vontade de viver, ao olhar aquele céu mais certeza tinha
de que a vida já ficara para trás. Era o céu de Portugal, país ingrato.
Sacrificando a sua juventude, tivera ele como paga daquele seu país o
desaparecimento do fulgor que ao seu corpo dava energia, ao seu espírito alento.
No
desembocar de uma rua, abria-se esta num largo. Do lado direito existia um
morro de terra avermelhada, encimado por eucaliptos. Do lado esquerdo
estendia-se um longo canavial. Ao centro do largo podia-se admirar um extenso e
verdejante relvado. Ao fundo, por detrás de uma linha de ciprestes,
localizava-se o cemitério da Conchada. O carro contornou o relvado e parou
junto aos ciprestes. Álvaro saiu do carro, acompanhado pelo seu pai. A manhã
estava fria e húmida. Tudo era feio para Álvaro. O mundo não tinha mais graça.
Aquela relva molhada era horrível, como o eram as folhas permanentes dos
ciprestes, que pingavam morte.
O
enfermeiro Victor aconchegou o filho contra si. Pôs-lhe um braço por cima dos
ombros e assim atravessaram o imenso portão do cemitério, espiados pelas
órbitas metálicas e velhas de uma representação de caveira, incrustada no topo
do portão. Álvaro caminhou pela rua ladeada de jazigos. Onde estava? Para onde
ia? Ao querer encontrar-se com a sua querida loirinha, era ali o seu destino,
no meio daquelas casas sombrias, fantasmagóricas, escorrendo desolada humidade
esverdeada, impregnadas de podridão? As lágrimas corriam-lhe quentes,
envelhecendo-lhe o rosto...(em continuação, ex. XXXVII)
in Visitados
Novembro/1999
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