domingo, 5 de abril de 2020

O MISTICISMO DE PORTUGAL NESTA QUARENTENA


Neste período de quarentena a que todos estamos civicamente obrigados a viver, aproveitei para ler um livro que há muito estava nos meus horizontes. E em boa hora o fiz. E a todos os que saibam reconhecer na história do nosso pequeno país valor e coragem, aconselho a leitura deste livro, nesta altura de recolhimento. Aqui fica um pequeníssimo excerto do livro, intitulado: História Mística de Portugal, da autoria do historiador Pedro Silva.



«O facto de todos nos conhecerem como país de brandos costumes parece indiciar que, por mais estranho que pareça, este seja um local onde o Amor, enquanto sentimento verdadeiro, livre de fenómenos físicos e fraterno, reside em toda a sua amplitude.

Se mais fosse necessário, bastaria atentar em dois pormenores cruciais: em primeiro lugar, conseguimos, no seio da tristeza crónica que se apoderou da nossa alma, consubstanciada no mito do sebastianismo, ainda acreditar que, um dia, Portugal será a mítica nação, capaz de voltar à época áurea que foi seu apanágio nos séculos XV e XVI; em segundo lugar, pertence-nos, e é por nós devidamente acarinhada, a palavra Saudade, tipicamente representativa de um sentimento que não renegamos e que nos coloca como, de forma primícia, capazes de olhar para o nosso passado com carinho e orgulho.

Fomos a nação que, mais longe tendo chegado, mais perto se sentiu de todos aqueles que visitámos, viajando em caravelas visionárias que rasgaram os oceanos com a mesma impetuosidade com que, ainda hoje, os nossos literatos defendem o valor do nosso passado.

Felizmente, em Portugal, a Saudade existe. E, se nos é permitido declarar, temos a grata felicidade de poder, ainda hoje, percorrer os caminhos da História através da visualização dos nossos monumentos, parte integrante do que fomos e do que poderemos vir a ser, desde que inspirados pelo destino.»

In História Mística de Portugal, Pedro Silva

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