...Dos quatro
pelotões que formavam a companhia aquartelada no Ninda, apenas um ficara para
assegurar a guarda ao aquartelamento. Os restantes três tinham partido em
missão de reconhecimento, sob um céu sem nuvens. Seguiam pela picada. Cada
pelotão fora dividido em duas partes. Cada parte seguia por cada um dos lados
da picada. Iam ali cerca de cento e cinquenta homens, envergando camuflados,
ladeando uma coluna de viaturas militares, coluna essa formada por dois unimogues,
onde estavam instaladas pesadas « breder ». Seguiam também três berliets e três
jipes, um deles transportando um morteiro 60. À frente da coluna seguia ainda
uma viatura de sapadores, para detecção e desactivação de minas.
A picada era um caminho sinuoso de
terra batida, que penetrava a densa vegetação. Os homens iam em silêncio, com
os sentidos em alerta máximo e os nervos à flor da pele. Só se ouvia o ronronar
dos motores das viaturas. Com as g3 bem seguras, colocadas ao nível da cintura,
e os tapa chamas apontados para a floresta, os soldados caminhavam uns atrás
dos outros. A meio deles seguia resguardado o comandante da companhia, o
capitão Rebelo. Sendo ele o primeiro alvo a abater pelo inimigo, com aquele
posicionamento mais difícil se tornava ao « in » detectá-lo. Na frente de cada
pelotão seguia o respectivo alferes.
Penetrando no interior da floresta, os
soldados tinham oportunidade de conhecer bem de perto a palpitação de vida que
existia em cada uma das árvores, de cada buraco, de cada carreiro da floresta
que os acolhia. Imensos macacos, de muitas espécies, seguiam com olhar atento o
avanço da coluna militar. Aves formando um formidável caleidoscópio, esvoaçavam
perto dos homens, aliviando-lhes de certo modo os espíritos perturbados com a perspectiva
de penetrarem o desconhecido.
Álvaro sempre muito aberto às belezas
naturais, ia de certa forma deslumbrado. Caminhando à frente do seu pelotão,
dir-se-ia que o seu espírito direccionava três das suas partes para a guerra e
uma quarta apenas estava ocupada em assimilar e registar a natureza
deslumbrante que os envolvia. Álvaro sentia que caminhava num estreito
corredor, entalado entre duas imensas paredes feitas de verdura. A extensão da
floresta de um e outro lado da picada era compacta. Todo aquele ambiente
vibrava de vida... e podia também esconder a morte. Ele não devia deixar que a
exuberância florestal o iludisse, pois não ia ali como amante da natureza, mas
como soldado, como guerrilheiro. Mas ele sentia que tinha capacidade para
desfrutar do espectáculo que a floresta lhe oferecia, e ao mesmo tempo de
sentir naquela mata um imenso e feroz inimigo. E sentia outra coisa: desde que
a coluna abandonara o Ninda, de vez em quando vinha-lhe à cabeça o cenário de
um grande tronco caído no chão, envolvido por capim e plantas trepadeiras,
tronco esse que obstruía o avanço da companhia. E nesse tronco e área
envolvente existia muito perigo...
(continua, pág. 70- ex. XIX)
in VISITADOS
Novembro/1999
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