Esta semana
entrei numa extraordinária aventura. Pus pés ao caminho, e fui em demanda da
porta do tempo, que me desse acesso ao passado. Encontrei-a, ao virar da
esquina de uma livraria. A porta abriu-se-me de par em par, e nela, roído de
expectativa, entrei, e imediatamente percorri 1183 anos. Embora continuasse em
Portugal e na Península Ibérica, entrei num mundo completamente diferente, não
só pela força dos anos, mas essencialmente pela força da influência de uma
cultura completamente diferente. Encontrava-me na parte mais ocidental de Al
Andaluz e imediatamente fui puxado mais para o seu interior, mas propriamente
para a cidade de Mérida.
Encontrava-me
cerca do ano de 830. Em consequência da invasão islâmica da Península Ibérica,
cujo nome foi transformado para Al Andaluz (muito bonito), invasão essa que
ocorrera em 711 (depondo os Visigodos do comando dos destinos ibéricos) por
tropas que, comandadas por Tarique, entraram pelo Estreito de Gibraltar, fui
encontrar uma sociedade muito complicada, eivada de extremas diferenças.
Na cidade de
Mérida, quase a explodir de revolta, perante os pesados impostos a pagar ao
Emir Abderraman II, que tinha a corte em Córdova, constatei que os habitantes
de Mérida eram constituídos por uma profusão de pessoas de várias origens: os
Árabes descendentes dos árabes genuínos da península arábica, os berberes,
árabes de todo o deserto norte africano considerados em segunda linha, os
Judeus, os Muladis, cristãos que se converteram ao islamismo e os Dhimmis,
cristãos que mantiveram a sua religião, e que para isso tinham de pagar uma
taxa. Senti o quanto os Dhimmis eram descriminados na sua própria terra, e o
quanto os Muladis era desprezados tanto por cristãos como por árabes.
E finalmente
percebi como se iniciou o processo da reconquista cristã, na Península Ibérica,
que apenas iria ter lugar cerca de dois séculos depois, mas cujo embrião
desabrochava por esta altura. E essa reconquista foi possível, porque houve uma
região da Península Ibérica que os árabes nunca conseguiram invadir: o reino
das Astúrias, bem lá no Norte, que se manteve sempre um bastião cristão, e de
onde acabou mesmo por se iniciar o contra ataque.
Aprendi
imenso. Claro que falo da leitura do livro «A Última Muralha», da autoria de
Jesús Sánchez Adalid, um livro que, para quem se interessar por estas questões
históricas, recomendo vivamente.
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